O que mudou nestes últimos 13 anos? Como estamos?
O que vivemos nos dias de “hoje”, e de “ontem”, serão em muito respondidos pela na nossa atitude. E neste aspeto não mudámos grande coisa. Continuamos com poucos a compreenderam que valorizar o que de bom fazemos e temos é um trunfo. Pensamos que o nosso presente e futuro estão nas mãos de “outros”. Há oportunidades e potencialidades… mas a nossa autoestima, por razões endógenas e exógenas, continua muito por baixo.
Mas se a atitude é a mesma (“questão” cultural que levará tempo a alterar), muitas outras coisas mudaram, nem sempre bem, nestes 13 anos.
Um vasto leque de obras e projetos concretizaram-se neste período de tempo. Se o leitor fizer um apelo à memória rapidamente se lembrará de investimentos e projetos, há muito ambicionados, na rede viária, na saúde, na cultura, no desporto, na educação, na segurança e proteção civil, no turismo, na justiça, na agricultura, na área social…
Mas uma pergunta se impõe: para quem? É verdade que os que por cá ficámos merecem o “melhor do mundo”, mas a certeza é a de que ao longo destes últimos anos o despovoamento se acentuou dramaticamente. Todos estes investimentos pressuponham, e pressupõem, responder às necessidades dos que aqui habitavam e habitam. Mas também tinham como objetivo um aumento demográfico fruto de melhores condições, e qualidade, de vida. Infelizmente esse aumento não se concretizou, antes pelo contrário.
O despovoamento é um fenómeno dramático e em progressão. Mesmo na cidade da Guarda. Nos censos de há uma década o concelho da Guarda e a cidade foram dos que mais cresceram demograficamente no interior do país. No último censo já houve uma quebra, ainda que ligeira. No próximo, ou eu me engano muito ou o despovoamento vai ser muito maior. Para explicar este pensamento basta imaginarmos que há uma década havia uma unidade fabril na Guarda que empregava milhares de trabalhadores, mais recentemente só já empregava centenas e hoje não emprega ninguém.
E aqui está o grande desafio para todos nós: a criação de emprego. Emprego sustentado e sustentável em todos os setores com captação e apoio até ao… suportável. Apesar do contexto nacional e internacional esta é a prioridade das prioridades nos próximos anos. Se tal não acontecer definharemos até um limite insuportável. Só com emprego haverá fixação de populações e só com esta fixação haverá desenvolvimento.
Não fosse esta desgraça e poderíamos dizer que o distrito estava razoavelmente bem. Hoje está mais infraestruturado e em muitas das condições que determinam uma boa qualidade de vida a situação é francamente boa.
E o distrito existe? Este, e os outros, só existem para fins eleitorais e pouco mais. Os fluxos organizacionais, sociais e económicos pouco funcionam em função da realidade distrito. É mais que certo que no dia em que haja a reforma do sistema eleitoral para a Assembleia da República os distritos serão um defunto.
Mas no contexto regional há no “horizonte próximo” uma “oportunidadezinha” que a Guarda tem que agarrar. Na reorganização regional, que terá cada vez mais importância em termos de estratégia e planeamento de desenvolvimento, está prevista uma “região” que se denominará de “Beiras e Serra da Estrela”. Resultará da junção das atuais “regiões” Beira Interior Norte, Serra da Estrela e Cova da Beira. Ou seja, esta região é a quase totalidade do atual distrito e vai integrar os concelhos de Belmonte, Covilhã e Fundão. Com isto a Guarda ganha centralidade e passamos a pertencer a uma região com mais dimensão e potencial. Não sendo o “alfa e o ómega” para a resolução dos nossos problemas aproveitemos a conjuntura para reganhar, ao menos, o protagonismo regional que já tivemos.
Por: Fernando Cabral *
* Governador Civil do Distrito da Guarda de novembro de 1999 a janeiro de 2001; Deputado à Assembleia da República, eleito pelo PS, de abril de 2001 a outubro de 2009
Comentários dos nossos leitores | ||||
---|---|---|---|---|
|
||||