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A gripe das aves raras

observatório de ornitorrincos

Parece estranha a demora do vírus H5N1 para entrar em Portugal. Um país de tanto passarão, com tanto melro e tanto faisão, com tanto peru e tanto abutre, seria normal que fosse afectado de uma forma epidémica por todo o território. No entanto, é muito raro que alguma coisa chegue primeiro a Portugal sem que antes percorra toda a Europa, excepção feita às canções de Romana e Claudisabel.

Este fim-de-semana apareceu pela primeira vez um sintoma da gripe das aves, mas curiosamente foi um frango que infectou um dragão para safar uma águia da morte certa. Este caso prova que a doença não se transmite apenas entre aves. Os ornitorrincos, com a famosa biologia incerta, podem também ser afectados, o que preocupa as autoridades portuguesas, pois não é fácil monitorizar populações de dez milhões de indivíduos. Se nem os fiscais das Finanças o conseguem, muito menos um grupinho de zoólogos e veterinários serão capazes de tomar conta deste charco ornitorrincal à beira do Atlântico.

Na passada semana, um inquérito europeu demonstrou que os portugueses atribuíam “à sua própria confiança no futuro do país uma nota média de 3 (de 0 a 10), o que me parece excessivamente simpático e optimista. Presumo que este excesso se deva à inclusão na amostra do estudo de Manuel Luís Goucha e alguns fiéis espectadores, sempre preocupados em encontrar um ou outro pormenor da boa qualidade deste país. Facto curioso, precisam sempre de sair da TVI para concretizar tal objectivo.

Também a passada semana, um conjunto de garotos matou à pancada um travesti toxicodependente sem-abrigo e a comunidade opinativa saiu em brados. “Aqui d’El-Rei, que a juventude está perdida.” Sim, aqueles jovens estão perdidos e a culpa atribuo-a a uma educação excessivamente repressiva, da qual estavam excluídas a masturbação e as experiências proto-sexuais com as coleguinhas do liceu. É sabido que enquanto alguém está suficientemente entretido com o funcionamento do seu instrumento se está a borrifar para a desafinação da gaita dos outros. A não ser que estas os surpreendam pelas costas, o que costuma aumentar a irritação e a diminuir a tolerância. Não estou a desculpar os miúdos. O acto é condenável, moral e criminalmente. Só estou a alertar as mães deste país que talvez seja preferível deixarem os vossos filhos visitar todos os sites que aparecem no Google depois de pesquisas como “big boobs”, “blonde giving head” ou “girls kissing girls” do que passar uma tarde com jogos onde o objectivo seja matar a soco e pontapé três velhotas mancas a viver do CSI (Complemento Solidário para Idosos). Num aparte, registe-se que no CSI à portuguesa, os velhotes terão de provar, com a ajuda de uma equipa de especialistas forenses, que além de não estarem mortos, não tardam a mudar-se para esse estado se o governo não lhes der um subsídio ou encontrarem um bando de miúdos desvairados na rua.

Ainda a propósito da velhice, o CDS considerou que a Constituição da República é um factor de esclerose, o que é grave num ser com 30 anos e já sujeito a várias intervenções cirúrgicas. Recomendo uma consulta ao Dr. House, especialista em tratamentos singulares e com sucesso. Ou isso ou deixar morrer esta e comprar uma nova aos americanos. Ou aos árabes, se Freitas do Amaral ainda for Ministro dos Negócios Estrangeiros nessa altura.

À hora que escrevo este texto, Portugal não defrontou ainda a Arábia Saudita, mas sei que Freitas solicitou a Scolari para não jogar deliberadamente ao ataque, para que o Ocidente não continue a agredir de forma continuada os povos islâmicos. E o seleccionador prometeu ao ministro perder os três jogos do Mundial: contra Angola para não perpetuar o colonialismo, contra o México por solidariedade com os índios de Chiapas e contra o Irão para não levarmos uma bomba atómica nos cornos.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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