O conceito de generosidade e a pergunta se “devemos ou não ajudar os outros” geraram uma acesa mas saudável troca de ideias em mais uma sessão de filosofia para crianças ministrada na Escola Internacional da Covilhã (EIC). Coordenado pela professora Ana Lúcia Prior, o projeto “Pateurekos – Crescer a pensar” implementado este ano letivo envolve alunos do pré-escolar e do primeiro ciclo, com idades compreendidas entre os 3 e 10 anos.
Francisca Velez, de 7 anos, João Pereira, Tomás Saraiva, Maria Monteiro, de 8, Lara Branco e a Maria Miraldes, ambas de 9, não têm dúvidas em afirmar que a filosofia os ajuda «a pensar melhor e a desenvolver melhor o nosso pensamento e consciência». A Francisca revela ainda que gosta de filosofia porque «desenvolvemos a nossa imaginação» e a Maria Miraldes reforça que também a ajuda «a ser melhor pessoa». Mais tímidas, Maria Madalena Ribeiro e a Carlota Fonseca, de cinco anos, também gostam «muito» destas sessões onde já abordaram, por exemplo, o conceito de «mistério». O interesse, a atenção e a boa disposição dos pequenos alunos é notório e a diretora da EIC considera que o projeto tem «todo o interesse na formação e desenvolvimento das crianças», na medida em que «vai ajudá-las a pensar e a torná-las pessoas assertivas quando têm que argumentar e tomar decisões».
As sessões de filosofia para crianças são de caráter obrigatório nesta escola e Ana Isa Saraiva adianta que, inicialmente, os pais das crianças do pré-escolar mostraram-se «mais reticentes porque quando falamos em filosofia pensamos em algo que tem uma dimensão muito grande e completamente direcionado para uma faixa etária mais velha, mas com o desenvolver do projeto o “feed-back” tem sido bastante positivo». A coordenadora do projeto “Pateurekos”, que resulta da junção das palavras “patarreco” e “eureka”, explica que a filosofia para crianças «acaba por não ser um ensino, mas antes um complemento», salientando que nas sessões «não falamos da existência dos filósofos, nem das suas ideias e obras». Pelo contrário, são abordados diversos temas com o objetivo de fomentar o raciocínio dos alunos através da «prática do diálogo, trabalhando o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social das crianças, nomeadamente a nível da dimensão crítica, afetiva e ética do seu pensamento, numa relação profunda entre pensar, falar e agir», refere Ana Lúcia Prior.
A docente garante que este projeto pioneiro contribui para a «aquisição de competências de raciocínio, pensamento, argumentação e desenvolvimento das suas ideias». Nesse sentido, as crianças têm tendência para virem a ser cidadãos «mais participativos e autónomos no futuro, com capacidade de decisão e a não serem pessoas tão passivas». A professora realça que, «antigamente, a filosofia estava num polo e as crianças noutro, mas a caraterística principal de ambas, o questionamento e o querer saber mais, une-as, daí este projeto». Atualmente, a nível de escolas, o “Pateurekos” só está a ser desenvolvido na EIC, mas Ana Lúcia Prior também costuma dinamizar regularmente sessões de filosofia nalgumas associações do concelho. O objetivo é que a curto prazo a filosofia para crianças passe também a fazer parte da oferta curricular do pré-escolar e do primeiro ciclo nas escolas públicas: «Já conseguimos criar na Sociedade Portuguesa de Filosofia uma secção de filosofia para crianças. Existem responsáveis em cada distrito pelo projeto e cada um cria a sua marca e a ideia é cobrir todo o território nacional. Estão a ser desenvolvidas reuniões com o Ministério da Educação para podermos avançar com este projeto em escolas públicas», adianta a docente, que é doutoranda em Filosofia Social e Política. De resto, Ana Lúcia Prior, responsável pelo projeto nos distritos de Castelo Branco e Guarda, vai apresentá-lo às autarquias e espera que o “Pateurekos” «tenha a recetividade que merece».
Ricardo Cordeiro
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