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A festa do vinho caseiro

A “Rota das Adegas”, em Nespereira (Gouveia), contou com a participação de 84 produtores individuais

«Há aqui vinhos que são bons em qualquer parte do mundo». A segunda edição da “Rota das Adegas”, promovida pela Junta de Freguesia e a Associação dos Amigos da Nespereira no último domingo, contou com a participação de 84 vitivinicultores individuais de várias localidades do concelho de Gouveia. Dado o êxito das primeiras edições, a organização já está a pensar numa actividade com maior abrangência e que, para além do branco e do tinto, possa reunir outro tipo de “néctares dos deuses”.

O “regulamento” da “Rota das Adegas”, em plena Região Demarcada do Dão, que no fundo pretende promover o vinho feito nas adegas caseiras, é bastante simples. O vinho de cada produtor é recolhido em garrafas, numeradas unicamente, cabendo ao júri analisar e saborear o produto para eleger os melhores. Os resultados foram conhecidos no final de uma boa feijoada “regada”, como não poderia deixar de ser, com vinho tinto. Os primeiros prémios foram entregues a dois produtores de Nespereira. Francisco Mendonça venceu na categoria de vinho branco, enquanto Mário Rui Ramos conquistou o tinto. A “receita” para produzir uma “boa pomada” passa por «trabalhar a vinha da melhor maneira que se sabe nas alturas devidas. Adubá-las como deve ser, dar-lhe as curas e depois também há o trabalho de lagar», explica Mário Rui Ramos. Confiante na qualidade do seu vinho, o produtor confessa que estava confiante numa distinção. «Já estava à espera de poder ganhar porque o vinho que tenho em casa é realmente muito bom. É claro que podia haver outros melhores, mas estava à espera de, pelo menos, uma menção honrosa como no ano passado», enaltece.

Satisfeito com a generalidade dos vinhos que provou ficou o presidente do júri, Mário Antunes, proprietário ligado ao sector em Viseu. Na sua opinião, são vinhos «muito característicos» e que são bons «em regra geral», contudo 2004 não foi um ano «excepcional». Houve boa graduação, mas não vinhos «com aquelas características e qualidades que lhes dão um toque de diferença», explica, adiantando que os produzidos por pequenos vitivinicultores «pecam às vezes por alguma falta de tratamento técnico, mas aí é que está a sua essência. É serem vinhos muito próximos do natural, sem grandes manuseamentos após a vinificação». São portanto vinhos a «preservar e a ter em conta devido às suas características únicas, já que se os elaboramos muito aproximamo-los dos vinhos comuns que qualquer alquimista consegue fazer desde que tenha uvas», ironiza. Já a qualidade dos vencedores do certame é indiscutível, pois são «vinhos bons em qualquer parte do mundo».

Consolidada a “Rota das Adegas”, que contou este ano com o dobro dos participantes em relação a 2004, Armando Almeida, presidente da Associação dos Amigos da Nespereira, garante que a iniciativa vai manter-se no futuro. «Não só com vinhos brancos e tintos, mas também com outros tipos como o abafado, rosé ou jeropiga, por exemplo», adianta. A organização ambiciona também proporcionar visitas às adegas dos produtores depois do almoço, para «conversarmos e vermos como é que fazem, que tipo de vazilhas e de castas utilizam», realça. O dirigente defende que esta autêntica festa do vinho caseiro deve manter-se, mas não esquece a comercialização: «É importante haver nichos de mercado para quem faz este vinho», reclama, lembrando que muita gente não consegue vender grande parte deste vinho multi-castas. Uma das curiosidades do certame é que o presidente do júri não é um enólogo, daí que os vinhos sejam analisados apenas pelo paladar, aroma e cor. «É que se fosse um enólogo exigia-nos as provas e o grau alcoólico», indica Armando Almeida.

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