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«A Feira de São Bartolomeu é o maior evento da região e tem um grande impacto na economia do concelho»

P – Quais são as novidades desta edição da Feira de São Bartolomeu?

R – É importante referir que Trancoso é uma terra não só de grandes feiras, mas também de grandes mercados, eventos e festivais de música. A Feira de São Bartolomeu é a feira franca mais antiga do país, tendo sido criada por D. Afonso III em 1273 e, portanto, já conta 744 anos. Nesta edição serão dez dias muito fortes, que começam amanhã, a 11 de agosto, e prolongam-se até dia 20. Teremos stands, tasquinhas, diversões, uma mostra de atividades económicas, artesanato e um grande cartaz em termos de espetáculos musicais. Embora a feira siga o figurino dos últimos anos, desta vez já temos um mercado municipal requalificado que permitirá que às sextas e sábados tenhamos outras condições para os nossos produtores. Em relação às novidades, teremos durante a manhã de dia 13 (domingo) uma prova hípica de obstáculos com cerca de 60 cavaleiros inscritos que vai decorrer no espaço do mercado do gado. Ainda nesse dia, mas à tarde, receberemos a TVI com o programa “Somos Portugal” no recinto da feira e acreditamos que isso atrairá muita gente.

No último domingo do certame, como já é habitual, teremos durante a manhã uma feira agropecuária no mercado do gado e à tarde um festival de folclore com seis ranchos. No correr da próxima semana haverá muita animação e vamos contar com a atuação de artistas de renome como Ana Moura (dia 11), Xutos e Pontapés (dia 12), Ana Malhoa (dia 15), Chave d’Ouro (dia 15), Anselmo Ralph (dia 16), Salvador (dia 17), Mikael Carreira (dia 18) e D.A.M.A (dia 19).

P – Como esta é uma altura em que há muitos emigrantes, esperam superar as expetativas?

R – A Feira de São Bartolomeu tem superado as nossas expetativas todos os anos, pois é o maior evento da região e tem um grande impacto na economia do concelho. Eu acredito que este cartaz vai fazer com que mais pessoas venham até Trancoso. Apesar disso, creio que a cidade também já é motivo suficiente para que as pessoas sintam vontade de nos visitar. Aliás, este executivo tem divulgado muito o concelho e o seu património, seja através de mercados, de eventos culturais ou até do Festival de Música no castelo. Note-se que estamos ligados a todas as grandes cidades, seja ao Porto, Lisboa ou Madrid, por autoestrada, portanto há uma facilidade muito grande para vir até Trancoso. Além disso, o facto de possuirmos linha férrea, a nossa localização geográfica e tradição faz com que acreditemos que, tal como noutros anos, esta edição supere as nossas expectativas. No ano passado vieram à feira mais de 150 mil pessoas.

P – Quantos expositores vão estar na Feira?

R – O campo da feira tem mais de 32 mil metros quadrados e já está totalmente preenchido com stands, assim como o pavilhão multiusos, contando com cerca de 90 stands, o que perfaz um total de 180 expositores. Este ano, a procura aumentou bastante e acho que isso é fruto da dinâmica que se vive em Trancoso nesta altura do ano. Aliás, até estamos com dificuldade em acomodar ali também um palco para a TVI precisamente porque o espaço, apesar de ser enorme, não chega para tanta procura. Com a dinâmica que este município tem imprimido ao concelho, através de eventos como a Feira do Fumeiro, a recriação das bodas reais, o feriado municipal, a Feira da Castanha, a Feira de St. Luzia ou o Festival de Música no Castelo, Trancoso tem sido promovido em termos nacionais e até internacionais e obviamente que isso faz com que muita gente nos venha visitar, sobretudo nesta altura do ano. Mas a Feira de São Bartolomeu é extremamente importante para os nossos comerciantes, para a restauração e cafés, tendo por isso um peso decisivo na nossa economia.

P – Qual é o custo da edição deste ano e como é repartido com a AENEBEIRA? Quais são os apoios?

R – Logo no primeiro ano de mandato decidimos vedar o campo da feira durante o certame, tendo a Câmara adquirido o gradeamento e portanto temos menos esse custo. De qualquer forma o custo da feira ronda sempre os 180 mil euros, em números redondos. Claro que temos seis ou sete dias com uma bilheteira simbólica (2,5 euros), o que significa que se entrarem 60 mil pessoas, que é um pouco a nossa expectativa, acaba por ser uma receita significativa e a Câmara recupera 130 ou 140 mil euros. É certo que é um investimento que a autarquia faz, mas estamos a contribuir, e de que forma, para a economia local. Não temos nenhum apoio comunitário, o evento é organizado pela Câmara em parceria com a AENEBEIRA. Os custos são suportados pelo município e as únicas receitas vêm da venda dos stands e das entradas no recinto da feira.

P – Numa altura do ano em que a Feira de São Mateus anda nas bocas do mundo, e tem vindo a ganhar espaço, qual é a estratégia para trazer pessoas a Trancoso?

R – Nós não mexemos muito nas datas da Feira de São Bartolomeu porque não faz sentido antecipa-la, como tem acontecido com a Feira de São Mateus. Primeiro porque nesse fim-de-semana já há muita gente, já temos muitos emigrantes, e depois temos seguramente no concelho cerca de 12 ou 13 festas pelas freguesias. Se antecipássemos a feira poderíamos colocar em causa essas festas religiosas. De resto, começando mais cedo, esta grande dinâmica que Trancoso vai viver até dia 20 acabaria mais cedo. Assim prolongamos este tempo de grande movimento até quase final de agosto. A única forma de continuar a atrair pessoas é mantendo-se a tradição e, acima de tudo, procurar alguma inovação, com um bom cartaz e continuando a acreditar nas potencialidades de Trancoso. Sabemos que muita gente vem não só para a feira, mas também para visitar o nosso património.

P – O município de Trancoso saiu do PAEL. Com que esforço?

R – Foram quatro anos de grande exigência, muito trabalho e dedicação por parte do executivo. No início do mandato definimos uma estratégia que consistiu sobretudo em colocar rigor nas contas municipais e procurar reduzir a dívida. Não foi fácil, mas deu os seus frutos. O valor da dívida registada no início do mandato ultrapassava os 12 milhões de euros e hoje estamos abaixo dos seis milhões. Foi uma redução de cerca de 2 milhões de euros por cada ano de mandato. Não fomos mais além porque também apostamos na dinâmica do concelho, que não parou. Em 2013 estávamos com muitas dificuldades, não tínhamos fundos disponíveis, mas reduzimos imenso o prazo médio de pagamento a fornecedores, que no início do mandato chegou a ser de 300 dias e hoje está nos 40/50 dias. Ou seja, foram resultados excelentes. Mudámos a gestão financeira do município e tudo isto se conseguiu porque poupámos. Poupou-se na água, luz, aquecimento, no quadro do pessoal (aposentaram-se mais de 20 funcionários e não substituímos). Também nas obras e projetos tivemos uma gestão de rigor. Não herdámos um único projeto do passado que pudesse ser aproveitado, tivemos que os realizar, a custos moderados e muitas vezes recorrendo aos nossos serviços técnicos. Essa foi a base dessa redução. Depois a clareza, a transparência e a proximidade também foram elementos chave. Sem dúvida que a saída do PAEL foi uma excelente notícia.

P – Que portas se abrem agora em termos financeiros para o município?

R – Já estão a decorrer um conjunto de obras por todo o concelho. Apoiamos as Juntas de Freguesia, que nunca antes tiveram um apoio regular e sistemático. Nós damos todos os anos algum subsídio às Juntas, algo que no passado não acontecia, pois eram ignoradas e passavam anos sem receberem um cêntimo da Câmara. Mantivemos todos os serviços públicos abertos, como as Finanças, o Serviço de Atendimento Permanente (SAP) 24 horas por dia, não encerramos nenhuma escola, temos cinema, duas piscinas municipais (em Trancoso e Vila Franca das Naves), dois centros culturais e oito agências bancárias. Isto revela bem o dinamismo, o acreditar nas potencialidades deste concelho. Não tenho dúvida que hoje a autoestima dos trancosenses é incomparável com aquela situação que se vivia em 2013. Hoje as pessoas acreditam mesmo em Trancoso e procuram investir: abriram mais comércios, mais lojas e estamos muito esperançados no futuro. Foi esta confiança que procurámos transmitir e sabemos bem da responsabilidade e do trabalho que temos pela frente. Mas estamos confiantes porque o que nos motiva são os trancosenses e o concelho. Estamos aqui para procurar atrair investimento e fixar pessoas. Ainda na semana passada recebemos uma excelente notícia da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Centro, que deliberou apoiar a nossa candidatura para uma Área de Acolhimento Empresarial. Em dezembro de 2015 fizemos a escritura de um terreno de 4,5 hectares contíguo à zona industrial e tem havido muitos empresários a solicitar espaços, a quererem investir. Há 15 anos que a Câmara não tinha um lote de terreno para ceder. Este foi outro projeto que abraçamos e já está aprovado, o que permitirá criar ali mais 15 lotes. A candidatura foi apresentada em maio de 2016 ao programa “Portugal 2020” e tivemos essa boa nova na semana passada. O projeto implica um investimento de 800 mil euros na infraestruturação do espaço, mas com esta aprovação teremos um cofinanciamento de 85 por cento e é uma questão de meses até arrancarmos com a obra. Esta área será uma mais-valia para Trancoso, pois vamos fixar ali mais algumas empresas e criar postos de trabalho. São muitas as pessoas que nos fazem chegar essa intenção de investir em Trancoso. Neste mandato também apostamos forte na Escola Profissional. Em 2013, o que ouvíamos era que a EPT tinha os dias contados porque a diminuição do número de alunos era assustadora e preocupante. O certo é que, com empenho e dedicação, com o acreditar nas pessoas, nos professores e nos funcionários, conseguimos dar a volta a esse cenário. No último ano tivemos mais 43 alunos e a tendência é aumentar. Passámos de 180 para 223 alunos e não tenho dúvida que este ano será possível criarmos mais uma turma. Temos em Trancoso alunos de 25 concelhos e alguns deles passam aqui a semana, o que dá uma vida enorme à cidade e estamos também muito contentes com essa aposta.

P – O início do mandato foi difícil, mas acaba com uma série de notícias positivas. Isso quer dizer que o próximo mandato, se for eleito, será melhor?

R – Houve um conjunto de obras que foram realizadas, como o quartel dos bombeiros, a praça municipal, o tribunal, o Palácio Ducal ou as igrejas. Foi um mandato em que se resolveram várias situações que se vinham arrastando no tempo. Não abandonámos as freguesias, muito pelo contrário fizemos obras em todas, e neste momento estamos com investimentos em termos de repavimentação de estradas municipais quase na ordem do milhão de euros. Não quer dizer que sejam todas executadas antes das eleições, mas o nosso objetivo é que estejam concluídas antes do próximo Inverno. Já lançamos também o concurso público para a melhoria da ligação de Trancoso até ao Chafariz do Vento e ao IP2. E temos financiamento para o Centro Escolar da Ribeirinha, para o edifício do antigo quartel da GNR e para um Centro de Desenvolvimento Social. No património natural e cultural temos dois projetos importantíssimos: um que consiste na recuperação da Igreja de Santa Maria, em Moreira de Rei, e outro na criação de um Centro de Interpretação Ambiental no Parque Municipal. Temos um conjunto significativo de projetos aprovados e é claro que isso nos cria grandes expectativas para os próximos anos.

P – Estamos no final do mandato, o que não conseguiu concretizar?

R – Sabíamos bem das dificuldades que íamos encontrar e, como tal, não foi possível concretizar tudo o que pretendíamos. Fizemos um mandato de proximidade, de respeito pelas pessoas, por todas elas, porque Trancoso precisa de todos, procurámos fazer pontes e derrubámos muros com os empresários, as IPSS, as associações culturais, desportivas e recreativas. Esta forma de trabalhar, de fazer política com clareza, transparência e espírito aberto, foi sem dúvida a chave do sucesso. Creio que fomos muito mais além do que havíamos prometido e nisso ficamos naturalmente satisfeitos, mas reconhecemos que há muito para fazer. Por exemplo, sabíamos que a recuperação do Palácio Ducal não era uma obra para fazer no mandato, nem nunca a havíamos prometido, ou a recuperação dos Paços do Concelho. Mas o certo é que já procurámos soluções para estes dois espaços. Adquirimos o Palácio Ducal, consolidamo-lo, e todas as obras que ainda não conseguimos concretizar estão bem encaminhadas. Elaborámos os projetos, as coisas estão em andamento e é uma questão de tempo até que o Palácio Ducal, a zona empresarial, o Centro de Desenvolvimento Social e o Centro Escolar da Ribeirinha estejam em andamento.

Obra do Centro Escolar da Ribeirinha adjudicada

«O Centro Escolar da Ribeirinha já foi a concurso público e a decisão do júri foi conhecida ontem [após o fecho desta edição] na reunião do executivo municipal, tendo sido proposta a adjudicação da obra à empresa vencedora. É também um projeto no qual este município se empenhou porque entendemos que não devemos abandonar os nossos territórios. A zona de Palhais e Reboleiro fica relativamente distante da sede do concelho e seria impensável que crianças dos 6 aos 10 anos tivessem que fazer 20 ou 25 quilómetros para estudar nesta fase de escolaridade. Além disso há ali três jardins-de-infância em Palhais, Reboleiro e Rio de Mel. Portanto procurámos não abandonar esse território e criar e equilibrar o concelho em termos de rede escolar. Só na freguesia do Reboleiro existe uma grande IPSS, o Lar de Santa Catarina, com 63 funcionários, muitos deles jovens, pelo que é a garantia de que também aquela zona é importante, que também tem futuro. O centro escolar já havia sido prometido há 10 ou 20 anos, mas agora vai mesmo ser executado. Já nos foi cedido o terreno, temos financiamento no âmbito da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela e, com pouco mais de 150 ou 200 mil euros, estou convencido que a Câmara constrói ali um pequeno Centro Escolar para albergar o jardim-de-infância e o primeiro ciclo do ensino básico daquela zona. O valor da obra rondará os 550 mil euros».

Paços do Concelho

«O secretário de Estado das Autarquias Locais conhece bem estas instalações e mostrou-se disponível para nos ajudar. Tanto a obra do Palácio Ducal, como dos Paços do Concelho, são intervenções no centro histórico e carecem do parecer favorável da Direção Regional de Cultura do Centro, que já temos. Mas a verdade é que foi difícil. Neste momento já temos ambos os projetos com parecer favorável e serão sem dúvida obras para o próximo mandato. O objetivo é recuperar o edifício para o transformar num centro cultural com uma mini biblioteca, espaços interpretativos das bodas reais e da Batalha de São Marcos, mas também uma área expositiva para o espólio da pintora Eduarda Lapa».

Recuperação do Palácio Ducal custa um milhão de euros

«Acima de tudo, procurámos dar a este edifício emblemático de Trancoso um aspeto diferente. Em termos de segurança, a estrutura foi consolidada e isso também permitiu a abertura daquela rua que esteve cerca de seis anos fechada ao trânsito. Era um ponto negro que tínhamos no centro histórico. A verdade é que, por agora, há um conjunto de obras bem encaminhadas, com financiamento garantido para executarmos no próximo mandato. A recuperação do Palácio Ducal divide-se em duas fases. Primeiro iremos proceder à requalificação propriamente do edifício, que custará cerca de um milhão de euros, e depois será construído o auditório onde iremos criar um espaço agradável para realizar várias atividades. Isso vai fazer com que passemos a dar mais vida ao “coração” da cidade e que irá atrair muito mais gente».

Atelier Criativo da Castanha no centro histórico

«Este executivo apostou muito no setor primário, em particular na agropecuária, na fileira da castanha e do vinho. Quanto à castanha, assinámos um protocolo com a UTAD para três anos, que terminará apenas em 2018, e os nossos produtores de castanha (mais de 900) já se deslocaram àquela universidade com regularidade, enquanto os professores da UTAD têm vindo a Trancoso falar com eles, ajudá-los no cultivo dos soutos, no combate às doenças, na plantação e, portanto, é um projeto extremamente importante. Temos também a Feira da Castanha, criada por este executivo e que hoje já é semelhante à de São Bartolomeu, embora seja apenas num fim-de-semana. São três dias em novembro mesmo muito fortes. Mas queremos ir mais além. Iremos criar uma incubadora de empresas onde será instalado um espaço para o Atelier Criativo da Castanha num projeto pensado para o ex-quartel da GNR, cuja requalificação já tem financiamento assegurado».

Trancoso SIM é um sucesso

«Era uma grande necessidade. Nós sentimos a dificuldade que a população das nossas freguesias tinha em deslocar-se até à sede do concelho, até porque o único dia em que havia transporte regular era à sexta-feira, por causa da feira. Naturalmente que havia uma dificuldade muito grande das pessoas idosas virem a Trancoso tratar dos seus assuntos. Procuramos uma solução com a Transdev para que as pessoas pudessem vir à cidade de uma forma rápida e o “feedback” tem sido excelente. As pessoas reconhecem que é uma mais-valia, foi das melhores coisas que nós pudemos colocar no terreno. Em termos de números, sei que temos sempre ultrapassado os 350 passageiros por mês e a tendência é para aumentar. As pessoas estão extremamente satisfeitas e creio que este é um serviço importantíssimo que estamos a prestar às populações do concelho».

Amílcar Salvador, presidente da Câmara de Trancoso

Comentários dos nossos leitores
Joana joanadias5018@hotmail.com
Comentário:
Como sempre, não ficaria nada mal dizer que uma das coisas relativamente importante para este concelho seria identificar o nome da aldeia de Garcia_Joanes com a União de freguesias de Feital e Vila Franca das Naves como uma aldeia sem saneamento e esgotos, sabendo que esta tem água a passar em seu redor fornecida às outras aldeias. Mas é a única que nem uma pinga vê. Isto sim seria importante pensar e refletir!
 

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