Veiga Simão, um dia, achou por bem abrir um Instituto Politécnico na Guarda. Magalhães Godinho viria a achar melhor, noutro dia, abrir um na Covilhã, fazendo com que só mais de uma década depois, do inicialmente previsto, o “nosso” Instituto visse a luz do dia. Nosso entre aspas, porque, pelo menos do que até hoje eu desse conta, nunca o foi verdadeiramente. Não sei se é o Instituto que se sente lá muito para baixo, ou se é a cidade que se sente cá muito para cima, mas, à conversa e de braço dado, não me lembro de os ter visto. O que é pena. Fossem eles verdadeiros amigos e que grandes coisas não teriam já feito! Uma nascente de oportunidades, em vez de um cemitério de ideias.
Soube, há uns dias, das dificuldades que muitos estudantes enfrentam, devido aos atrasos e demissões de quem era suposto apoiá-los. O que me deixou confusa, pois para uma cidade, região, que se queixa de depressão demográfica, desdenhar assim da possibilidade de cativar novos habitantes é, no mínimo, estranho. Olhemos a coisa por um prisma numérico: se, por cada 1000 estudantes, conseguíssemos que cá ficassem 200, a linha descendente da demografia abrandaria um pouco. Ou não? Eu acredito que sim e, por isso, penso ser do nosso interesse tratar bem, muito bem, os estudantes. Se isso implicasse arranjar mais umas residências e umas refeições, pois que que se arranjassem. Instituto, Câmara Municipal e Governo que se entendessem depois, ou não, com os governos dos países de origem desses estudantes. Fosse eu empresa de serviços e, nas linhas seguintes, incluiria qualquer coisa do género “se já pagou, descarte esta missiva”. Como não sou acrescento que, se já pagou, considere continuar a pagar.
Antecipemo-nos, assim, aos argumentos da falta de mão de obra qualificada, e outros que tais, de empresários. Desmontemos as propostas para se remediar o que não se preveniu, a demagogia dos que quando puderam nada fizeram e agora se precipitam em amontoados de pretensos salvadores da pátria. Quer dizer, da região. Ou melhor, do Interior que, afinal, é mais fronteira. Deixemo-nos de amenas cavaqueiras e monólogos impercetíveis, o que precisamos é de gente nova, qualificada! Depois já podem explanar sobre “descentralizações”, seja lá o que querem dizer com isso, e “desconcentrações” …
Acolher bem os estudantes do Instituto é cuidar do futuro da cidade. Se para isso for necessário reorganizar antigas residências e realojar serviços que se faça. Não podemos é deixar que continuemos a ser o rosto de experiências de má memória de uma juventude esquecida em garagens. Li algures que os guardenses costumam ser “pais para os estranhos e padrastos para os de casa”, mas, a julgar pelo modo como têm recebido estes estudantes, parece que também eles já não são o que costumavam ser. Talvez agora sejam pais e padrastos só para alguns (de casa e estranhos), talvez já nem sejam uma coisa nem outra. Guardenses à séria, como Veiga Simão, é que não se têm visto por cá. O que é pena e, sobretudo, nos está a fazer muita falta.
Por: Fidélia Pissarra