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A Face Oculta ( I )

É perfeitamente claro que nada sabemos acerca de nós próprios e muito menos dos outros; e é também perfeitamente claro que só a curiosidade pode ir solucionando tão prementes questões.

Tão longe quanto a minha memória me permite recuar, a esses respeito é no pátio da casa, no Barracão, que me vejo, talvez com 8 anos, a ler. Saber de mim, dos outros e do mundo era o meu objectivo. Porque eu já sabia que não sabia, já sabia que precisava de saber. É, é espantoso, afirmação da minha ínsita boa estrela. Sobre o meu signo astrológico, Linda Goodman, a minha preferida autora na “matéria” escreve: «encontra-se um cérebro muito inteligente e de padrão elevado. A sua singular combinação de agudeza, inteligência e agitação leva em geral o arqueiro para o círculo do vencedor».

A isto há que somar uma educação religiosa, cujos princípios eram absolutamente incoercíveis. É um arcaboiço destinado a tudo cometer, um intangível optimismo, a certeza de que a vitória está na ponta dos princípios – e que só com as intangibilidade e potência dos princípios há vitória, pode cantar-se vitória. A religião e os princípios ancoram-se na tradição.

Viajar, sempre, desde sempre, contribuiu para tudo isto. Os arqueiros são os viajantes por antonomásia. Viagens físicas – espirituais – mentais – intelectuais – culturais…

Quando me era propiciado saber que o meu conhecimento sobre o Humano podia expandir-se, tratava-se de uma presa dominada; e uma das primeiras, teria 13 anos, foi alguém ter-me chamado a atenção para a importância da Grafologia. Muitas vezes me dirigi à biblioteca do liceu para, na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, me deixar impregnar, tão fundamente quanto possível, pelo conteúdo do dito artigo – sempre com dicionário ao lado, porque, afinal, o nosso mundo lexical é sempre surpreendentemente limitado. A partir daí podia ir olhando para dentro de mim e dos outros, ir-me conhecendo melhor a mim e aos outros. Desde então nunca mais abandonei este filão; e o ter conhecido pessoalmente, há mais de duas décadas, a que é o maior vulto da grafologia portuguesa, propiciou-me obter a melhor bibliografia sobre a “matéria”. Tal como a Astrologia, a Grafologia mostra-nos a incoercível unicidade do ser humano – e como só a maturidade interior pode ter consciência de que se sabe mais hoje que ontem.

Uma estreme atenção ao Presente e aos outros, bem como a conversa com os mais interessantes espíritos, têm, já se vê, que arrolar-se aqui. Mas estarmos atentos aos outros, por mais queridos e íntimos que sejam, não é concluir que os outros – tal qual nós próprios –, afinal, sejam sempre constantes! De outro modo: o outro é o outro, mas o outro não é sempre igual, revela variações, alterações.

A esse respeito – e por mais importante que o domínio da Psicologia seja – a Parapsicologia impõe-se. Li uma série de obras de um dos grandes nomes da área, o Pe. Óscar Quevedo, fui mesmo a sessões, no Porto, nas quais falou, trazido a Portugal pelos seus congéneres de Braga.

A Morfopsicologia, com a sua remissão para o concreto – baste lembrar, v. g., a diferença entre um braquicéfalo e um dolicocéfalo – avantaja-se, igualmente, neste domínio do humano, neste conhecimento de nós e dos outros.

E a Arte, História, Filosofia, Sociologia, Economia…dão, também, inestimáveis contributos, está bem de ver. Afinal, uma educação da mais alta qualidade só o é porque aquele que a recebe – e se esforça, sem quaisquer desfalecimentos, por refiná-la – sente que cada geração (ele próprio, portanto) só o é porque, por trás dela (dele) há um tempo infinito, ou, para citar Isabel Carlos, Directora do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em entrevista ao Público de hoje, «cada geração começa como se não houvesse nada, por trás» (citação algo descontextualizada). Viver é precisamente ter consciência disto – de que houve algo por trás. Melhor: que há um infinito, uma memória – obrigatória.

Refinamo-nos a tal ponto que, a dada altura, podemos captar as vibrações do outro, a sua face oculta. Depois, ensinamentos como os da universidade – se for o caso – aparecem-nos em toda a sua exponenciada dimensão de erro. Um exemplo? A República (1910 – 1626) foi uma miseranda página da História de Portugal (salvou-se a sua participação na guerra para preservar o Ultramar, v. g.) mas não só o seu centenário vai comemorar-se como, surpreendente ou não surpreendentemente…, há ainda quem a defenda. Um exemplo da inamovível violência e estupidez republicanas é-nos dado pelo que foi um dos próceres maiores do regime, Afonso Costa.

«Acabar com a Religião em duas gerações», disse. O templo da Santíssima Trindade em Fátima está aí para responder-lhe, tal como a Igreja – instituição lusa, cujo deve-haver, neste final da primeira década do século, está longe de ser exaltante.

…Face oculta. A expressão foi usada por mim no artigo de homenagem ao Dr. Adriano Vasco Rodrigues, que publiquei na última Altitude – também lá demonstro por que deve a Guarda, quanto antes, erigir-lhe uma estátua. E foi usado muito antes de aparecer nas parangonas e se ter tornado um motivo de pesadelo para o nosso País. Atrás da face oculta das pessoas e das coisas é que andam todos os homens de bem. O título da operação da PJ é um exponenciado refinamento com esotérico perfume – perante o qual me curvo, claro.

Guarda – 28 – XI – 09

Por: J. A. Alves Ambrósio

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