P – Neste contexto de profissionalização dos agentes de protecção civil, o voluntariado dos bombeiros está em causa?
R – Está, seguramente, nos moldes em que o conhecemos. Mas é um desafio para que as associações humanitárias se terão de preparar. Provavelmente haverá, também, um “refinamento” do voluntariado. Assim queiram contar com os bombeiros e as suas associações…
P – Qual o papel que caberá aos bombeiros neste novo modelo de serviços de protecção civil, combate a incêndios e transporte de doentes?
R – Não contar com a experiência, e a voluntariedade, e querer destruir o que se construiu de bom nestes anos todos em que o socorro esteve, basicamente, entregue aos bombeiros será mais uma loucura nacional. Entregar as vertentes de socorro somente a estruturas profissionais é diminuir, perigosamente, a capacidade de intervenção. Preterir os bombeiros nos transportes de doentes em favor de estruturas privadas, e meramente com intuitos lucrativos, é desumanizar um serviço de extrema utilidade para o nosso povo. Os bombeiros terão sempre o seu lugar, mas convinha que fossem tratados com mais lealdade.
P – Concorda com Luís Santos, que diz haver concorrência e não complementaridade entre os bombeiros e a Protecção Civil?
R – Se concordo? Concordo, bato palmas e tiro o chapéu a quem tem a coragem e a sensatez de exprimir publicamente o que muitos querem esconder. Quando precisam de nós todos nos batem nas costas, quando é preciso arranjar bodes expiatórios, mesmo dos falhanços dos outros, arranja-se sempre um bombeiro a quem bater…
P – Acha que há um desequilíbrio entre os meios ao dispor da Protecção Civil e os dos bombeiros, que reclamam por mais meios de actuação?
R – Há certamente um desnorte generalizado. Uns têm bons equipamentos, meios, condições e não conseguem resultados que outros conseguem com maus equipamentos, sem meios modernos, mas é inegável que quem trabalha é muitas vezes esquecido e há uma campanha de promoção da imagem do outro lado… É aqui que se adapta a velha definição: “A estatística é a maneira matemática de se mentir”…
P – Que consequências terá para os Bombeiros a instalação de uma ambulância do INEM na Guarda, tendo em conta a experiência de Seia?
R – De Seia e muitos outros locais do país… É um erro estratégico o INEM continuar a querer colocar ambulâncias sem a parceria dos bombeiros. A direcção dos Bombeiros Egitaneenses esteve bem na força da sua argumentação se viesse uma ambulância do INEM que se responsabilizasse por tudo. Os bombeiros é que não podem estar a manter dispositivos de meios e pessoal para serem as sobras do INEM. Aqui é que não há concorrência, ou há cooperação ou nem complementaridade deverão ter.
P – Acredita que as populações ficarão melhor servidas com essa ambulância?
R – Não. Os bombeiros sempre fizeram um socorro de proximidade. Não reconheço tanta melhoria técnica dos tripulantes formados pelo INEM em cinco semanas de treino para as suas ambulâncias em relação aos muitos bombeiros com o curso de tripulante de ambulâncias de socorro (TAS) e em termos de ambulâncias de suporte básico nem vejo diferença nenhuma. Mentira… mudam as fardas e a capacidade de fazerem campanhas de promoção…