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«A ENERTECH é o resultado de um conjunto de sinergias que coincidiram no momento e neste território»

António Robalo, presidente da Câmara do Sabugal, a propósito da segunda edição da Feira das Tecnologias para a Energia, que começa hoje

P – Vai começar a IIª edição da ENERTECH, um projeto diferente do que normalmente se faz no interior. Qual é o objetivo?

R – É diferente em tudo. Primeiro, porque parte de uma ideia de base do território, da identificação do potencial que a região, e particularmente o Sabugal, têm na energia eólica, solar, biomassa florestal e na água. São ingredientes que fazem com que o concelho seja hoje um bom produtor de energia com alguns grandes investimentos privados. Na sequência da elaboração do nosso Plano Estratégico, identificámos a energia como área promocional do território, aproveitando também as dinâmicas do Portugal 2020. Temos todos os ingredientes para o Sabugal, a região – e porque não o país – poder apostar num certame como este. É verdade que estamos ainda a caminhar muito sós, mas penso que a persistência vai render e queremos cada vez mais que a ENERTECH seja um atrativo para os profissionais, os utilizadores, as instituições e as demais instâncias.

P – É difícil “caminhar sós” na organização desta feira?

R – Não temos apoios, tenho a solidariedade dos meus colegas autarcas da região e não tenho dúvidas que este é um projeto bom para a região. Não nos podemos esquecer que a biomassa florestal pode ser conjugada com a proteção civil e com o combate aos incêndios florestais.

P – Até que ponto a ENERTECH também pode ser uma forma de sensibilizar empresas e pessoas para o aproveitamento dos resíduos florestais?

R – Temos no concelho um conjunto de equipas de sapadores florestais que subsidiamos em parte e que são ativos, postos de trabalho no território, e que podem também ser agregados a esta nova realidade. Estamos a aguardar que o Estado publique esse plano de ordenamento florestal ambicioso, pois queremos que a nova gestão florestal seja uma boa alavanca para nos protegermos do flagelo dos incêndios. Podemos fazer a gestão da biomassa aproveitando-a na produção de energia. De resto, este ano convidámos para apadrinhar esta feira o professor Carvalho Rodrigues por entendermos que é uma colaboração muito importante para colocar o certame noutro patamar. Ele aceitou e será o comissário da ENERTECH nesta e nas próximas edições. É uma pessoa que consegue transmitir muito melhor que eu esta mensagem de que a energia está no nosso dia-a-dia e é cada vez mais necessário sermos mais eficientes na utilização dos recursos do território. Nesse sentido, a feira serve para promover este potencial e o Sabugal, no sentido de fazer com que haja ainda mais investimentos na área energética no concelho e na região.

P – Para esta edição a autarquia convidou empresas estrangeiras, da Áustria, Suíça, Alemanha, França, Espanha e Cabo Verde, a participar no certame. Qual foi o resultado?

R – Ainda estamos naquela fase de maturação e há muito trabalho a fazer neste domínio. No ano passado fizemos os convites, quiçá, um pouco tardios e nesta segunda edição fizemo-lo com mais tempo. Temos recebido mensagens de apoio e de disponibilidade para colaborar, mas é extremamente difícil trazer empresas de fora porque não somos uma capital de distrito nem uma capital regional, somos um concelho periférico do país. Como disse antes, estamos ainda a caminhar muito sós, mas temos uma vantagem: somos conhecedores do campo em que estamos e sabemos o potencial do território e as coisas, mais tarde ou mais cedo, acontecem.

P – Alguns dos parceiros essenciais são o Politécnico da Guarda e a UBI. A que se deve esta parceria?

R – Desde a primeira hora que integramos o IPG, a UBI e o Politécnico de Castelo Branco como parceiros essenciais nesta iniciativa, assim como a ENERAREA, que é uma das poucas agências regionais de energia existentes e que está sedeada na nossa região, mas que, se calhar, as pessoas não valorizam. Depois temos que acrescentar a isto alguma utopia, que é trazida pela ADES, o Fórum Florestal e pelas pessoas.

P – O Sabugal é porventura um dos concelhos com mais empresas a laborar na área das energias renováveis e do aquecimento. A ENERTECH também é o resultado dessa dinâmica e quer ser um contributo para que haja mais investimentos nesse setor?

R – Também é. Olhámos para o território, vimos o seu potencial e que havia aqui uma capacidade instalada de produção de equipamentos e de utilização de energia e com este evento iríamos dizer às pessoas que estávamos ao seu lado, com vontade de colaborar e dar visibilidade aos seus negócios. Hoje, temos no concelho empresas de que nos orgulhamos. Além daquelas que vieram explorar os nossos recursos, como o vento, temos uma empresa – a ENAT – que dá cartas a nível nacional e que nasceu aqui da vontade de sabugalenses, que, no fundo, deixaram a utopia e passaram à prática.

P – Como surgiu esta ideia de fazer uma feira da área das tecnologias e do ambiente, num concelho tão à margem dessas realidades?

R – Houve a coincidência de várias situações. O Sabugal é um concelho com uma multifuncionalidade enorme em termos de potencialidades energéticas, depois já há inúmeras empresas instaladas neste setor e, finalmente, porque parte da receita do município já é resultado da energia que é produzida. Neste momento é cerca de um milhão de euros que a Câmara do Sabugal recebe em taxas. É um valor significativo. Há ainda o facto de quem está a dirigir o concelho ter essa sensibilidade e ter formação académica na área. De resto, tudo começou quando o engenheiro Escada da Costa nos desafiou a fazermos uma feira de biomassa, mas nós decidimos avançar com um certame dedicado às várias energias alternativas e às tecnologias. Portanto, a ENERTECH é o resultado de um conjunto de sinergias que coincidiram no momento e neste território.

Feira ENERTECH a partir de hoje

Mais espaço, mais expositores e as últimas novidades do setor das energias renováveis e naturais, será assim a segunda edição da ENERTECH – Feira das Tecnologias para a Energia, que começa hoje no Sabugal. O evento é comissariado pelo cientista Fernando Carvalho Rodrigues.

O certame é organizado pelo município e vai decorrer até domingo no pavilhão municipal e envolvente numa área coberta de 2.200 metros quadrados. O seu propósito é divulgar equipamentos e sistemas de energias naturais por empresas locais, nacionais e estrangeiras. Este ano o evento terá dias temáticos dedicados aos profissionais (dia 26), ao conhecimento e inovação (dia 27) e à família (dia 28). A Enertech contará ainda com sessões de demonstração de equipamentos, conferências sobre eficiência energética e inovação – amanhã, pelas 14h30, o tema será “Desafios para a Sustentabilidade Energética” e no sábado, pelas 14 horas, terá lugar um ciclo intitulado “Ciências na Energia e Eficiência Energética” seguido do seminário “Oportunidades do Comércio Eletrónico” – e será complementada com uma feira de artesanato e uma área de divulgação das empresas locais, denominada “Made in Sabugal”.

Durante o evento haverá atividades lúdicas, tais como balão de ar quente, insufláveis, “game day”, “test-drive” e “pump track bike”, bem como concertos. O objetivo da organização, que envolve ainda os Politécnicos da Guarda e Castelo Branco, a UBI, a ENERAREA, a ADES e o Fórum Florestal, é divulgar o concelho do Sabugal como «exemplo da importância que o aproveitamento das energias naturais representa no desenvolvimento da economia e qualidade de vida das populações». A abertura da ENERTECH está marcada para as 17 horas de hoje.

Opinião – Fernando Carvalho Rodrigues

O interior é uma reserva de energia

Foi com entusiasmo que aceitei o convite para comissariar a ENERTECH. Uma das vantagens do interior é ser uma reserva de energia com a variável que hoje importa, que é sem causar muita entropia.

Pode-se produzir toda a energia que se quiser, mas se for má – porque a energia pode ser muita e má, ou pouca e boa, não basta ser só energia, é preciso que não exporte confusão. Por exemplo, as centrais a carvão exportam uma grande confusão e as centrais de biomassa reintegram a confusão no sistema. É um problema universal, pois nunca sabemos quais os mecanismos que transformam uma coisa local em global. Só sabemos no caso das sementes. Já no caso da energia e tecnologia o casamento é este: é fazer com que a gente seja capaz de produzir energia sem espalhar confusão.

Por exemplo, nós, para vivermos, temos que gastar doses maciças de energia. E o que fazemos para continuarmos sempre orgânicos e funcionais? Espalhamos o caos à nossa volta. Por cada bife que a gente come estraga o animal todo, mas não era assim quando se fazia a matança. Nesse tempo era tudo integrado porque não se podia dar ao luxo de criar entropia. Hoje, precisamos muito de energia e exportamos muito mais entropia. A tecnologia é necessária para que se produza muita energia a muita baixa entropia. Isto dito em palavras normais é assim: é preciso ser orgânico e funcional internamente sem espalhar o caos.

E os humanos não foram feitos assim, foram feitos para serem orgânicos e funcionais e, para isso, espalharam à sua volta um caos desgraçado. A tecnologia é para o caos ser o mínimo possível.

Comentários dos nossos leitores
José Nunes Martins josnumar@hotmail.com
Comentário:
Lembro aqui os leitores do jornal “O Interior” que o engenheiro José Escada quando desafiou a C.M.Sabugal a inovar e a realizar uma feira, que agora vai na 2ªedição, foi na qualidade de presidente da direcção da AMCF (Associação Malcata Com Futuro ) e nunca em nome pessoal. Foi assim há dois anos e continua nessa posição hoje. É o próprio José Escada que constantemente afirma que tem Malcata no coração, a ela está ligada afectivamente e é pelo seu desenvolvimento, pela melhoria das condições sócio económicas dos malcatenhos se tem disponibilizado a trabalhar nas horas livres da sua actividade profissional. E como José Escada é um homem de visão e sabe que Malcata não é apenas o território da aldeia, apoiado na AMCF e nos seus associados colectivos(empresas e instituições) e singulares(cidadãos) numa perspectiva de garantir maior êxito e abrangência, mas nunca deixou cair no esquecimento a Associação Malcata Com Futuro e assim continuará.Porque será que custa tanto referir a AMCF a certos responsáveis do poder autárquico local?
 

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