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A energia das ondas

Mitocôndrias e Quasares

Nas últimas semanas fomos invadidos com as mais variadas noticias acerca da agitação marítima na costa portuguesa. Como se trata de um tema que está na ordem do dia, é relevante densificar a compreensão desta matéria, para percebemos com o que estamos a lidar.

O ritmo diário de subida e descida do mar é conhecido desde os tempos mais remotos, mas foi só nos últimos 350 anos que começámos a perceber a geração e complexidade dos movimentos das massas de água, em especial, das marés. As marés são geradas pela interação dos efeitos gravitacionais do Sol e da Lua sobre a Terra, fazendo dos oceanos andar para cima e para baixo, como se estivessem numa taça gigante. O ritmo das marés é alterado, e tornado mais complexo, por diferenças nas profundidade da água, pela forma das massas terrestres adjacentes e pela rotação da Terra. Os ciclos dominantes da maré estão relacionados com os ciclos lunares, e assim, ocorrem com o dia lunar de 24 horas e 50 minutos e mudam desde a maior amplitude de maré (marés vivas) para a menor amplitude (marés mortas) duas vezes em cada 28 dias. As marés mortas ocorrem quando a Lua está ou no primeiro ou no último quarto, quando a atração gravitacional sobre os oceanos se exerce em ângulo reto com o Sol. Isto reduz a altura das marés e a profundidade das marés baixas. As marés vivas ocorrem em todas as luas nova e cheia quando a atração gravitacional do Sol e da Lua estão alinhados e reforçam uma à outra de modo que a amplitude de maré é maior durante a noite.

Há também ciclos de períodos longos, ocultos nas cartas de maré, que têm sido revelados por análise matemática. As marés eram preditas por calculadores mecânicos complicados, mas desde 1960 são usados computadores.

As marés, também, trazem consigo energia. A energia da marés foi primeiro dominada, há centenas de anos, para satisfazer tarefas como moer farinha, serrar madeira ou triturar pólvora. No começo do século XX foi usada para gerar eletricidade. A primeira estação foi construída em 1913 no estuário do Dee, na Inglaterra, e a primeira central grande, bem sucedida, foi construída por engenheiros franceses, entre 1961 e 1967. Ela atravessa o estuário do rio Rance, que corre para o golfo de Saint-Malo, na Bretanha. Aí, uma barragem equipada com turbinas reversíveis permite à estação funcionar em todos os estados do ciclo de maré. A energia das marés é, portanto, aproveitada nos dois sentidos: do mar para a bacia da maré, na enchente, e da bacia da maré para o mar, na vazante. Rance tem 24 unidades de energia de 10.000 kW cada.

A construção de uma barragem de mar não é pacífica, existindo grandes consequências económicas e ambientais. Embora cada local tenha características únicas e levante considerações específicas, são previsíveis algumas consequências comuns a todos os locais. Uma mudança no nível, ou inundação, afeta a vegetação à volta da costa, com impactes nos ecossistemas aquático e da linha de costa.

A qualidade da água na bacia, ou estuário, também é afetada. O nível de sedimentos muda, afetando os animais como os peixes e as aves. Os peixes migratórias, particularmente espécies como o salmão, a truta-do-mar e a enguia, serão prejudicadas, ou mesmo mortas pelas turbinas, a menos que seja feita para eles uma passagem através da barragem.

Um oceanógrafo famoso começava as suas palestras sobre os oceanos com a frase: “Os oceanos são vastos, profundos, negros, frios e salgados”, termino este texto precisamente com esta frase, em jeito de reflexão acerca do potencial que poderemos obter dos 900 km de costa que o nosso “retângulo” possui.

Por: António Costa

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