Segundo os dados do INE e de outras entidades, o número de emigrantes portugueses triplicou de 2009 até 2013. Só em 2013 foram 128 mil. Se a estes juntarmos os que saíram em 2008 e 2014 – para abarcarmos o período da atual crise – tiveram que deixar a sua terra para ganhar o seu sustento no estrangeiro cerca de 700 mil portugueses, o que dá uma média anual aproximada de cerca de 100 mil habitantes, o equivalente a esvaziar totalmente uma das maiores cidades portuguesas (excluindo Lisboa e Porto).
Dos que saíram em 2013 quatro em dez portugueses fizeram-no de forma permanente, o que significa que por um período igual ou superior a um ano. Se a saída for inferior a um ano diz-se temporária, embora muitas vezes seja também definitiva. A emigração total é, assim, a soma de uns e outros. Só neste ano emigraram permanentemente 54 mil, quando em 2012 foram 52 mil. Fazendo uma retrospetiva vê-se que esse número mais do que triplicou em cinco anos (pois em 2009 eram 17 mil e em 2013 foram 54 mil), segundo o INE. Somando os dois tipos de emigrantes, conclui-se que em 2013 foram 128 mil, número superior aos 121 mil de 2012 e aos 100 mil de 2011. As estatísticas mostram que 4 em 10 portugueses saíram de forma permanente. Segundo o INE, os restantes não afetam negativamente o saldo migratório por não deixarem de ser contados como população residente em Portugal. Se o fossem, a perda de população de um ano para o outro seria consideravelmente superior aos 60 mil residentes que o país perdeu entre 2012 e 2013 (ano em que a população residente passou de 10.487.289 para 10.427.301 habitantes).
De facto, o saldo migratório tem sido negativo: -36.232 em 2013, -37.352 em 2012, números que beneficiaram do aumento de estrangeiros/imigrantes permanentes, que passou de cerca de 15 mil/2012 para cerca de 18 mil/2013. O gráfico seguinte mostra a trajetória da emigração permanente que nos deixou entre 2003 e 2013 segundo os valores oficiais do INE. Infelizmente não dispomos ainda, neste princípio de ano, dos dados referentes à emigração de 2014.
Causas da atual emigração
As causas do atual surto emigratório são várias; desde logo a crise económica que se instalou em Portugal desde o virar do século e que se foi agravando progressivamente até 2008, quando deflagrou a crise do subprime/hipotecas que acarretou as crises bancária e das dívidas soberanas, e a crise geral que levou à atual política de austeridade, ao encerramento de empresas e de empregos. E não havendo estes e estando o Estado a racionalizar(?) os seus serviços e recursos, a reformar uns e a enviar outros funcionários para a mobilidade, o que significa a expulsá-los da função pública, restam poucas alternativas de emprego para os desempregados, inativos e para os jovens que chegam pela primeira vez ao mercado de trabalho. A taxa de desemprego que chegou em anos recentes a cerca de 17.5% da população ativa, mais de 40% dos quais jovens que procuram o primeiro emprego, mostram essa realidade nua e crua. Nem os famosos pacotes de formação que riscam das estatísticas do desemprego largos milhares de desempregados bem reais (colocando-os em formação em troca de um pequeno subsídio pecuniário e de uma ajuda para almoço) minimizam substancialmente o problema, pois em 2014, mesmo com esta cosmética, ainda havia 13.5% de desempregados globais (dos quais mais de 30% eram jovens…). Saiu recentemente na imprensa que dos cerca de 687 mil empregos liquidados (236 mil só na agricultura em 5 anos) pela atual crise apenas 10% foram repostos durante o ano de 2014, ano em que já houve alguma criação de emprego (70 mil)… A estas causas há a acrescentar o “espírito de aventura” de alguns jovens e alguma tradição de emigração entre os portugueses que já vem do século XV, entre outras, mas é sobretudo a precaridade, a necessidade e o desespero que leva os jovens a demandar outras paragens em busca de melhores condições que a madrasta Pátria tarda em lhes oferecer.
Características da atual emigração
A emigração atual tem características algo diferenciadas das anteriores porquanto nesta última há uma cota relativamente elevada de pessoas altamente preparadas com licenciaturas, mestrados, doutoramentos, até pós-docs, e conhecimentos de línguas (sobretudo inglês), o que antes não acontecia. Mesmo os que têm habilitações intermédias têm hoje mais facilidades de integração pelo mesmo motivo. E o peso dos jovens nessa emigração é relativamente elevado (v.abaixo), facto que, em nossa opinião, é criminoso para os jovens que partem e que deixam para trás os seus familiares e amigos e para o país que deixa de poder contar com uma mão-de-obra muito jovem e muito qualificada que é indispensável ao crescimento económico e cujas contribuições para a previdência são fundamentais para assegurar as pensões de reforma (e outras) dos que, merecidamente, atingem esse estatuto depois de mais de quatro décadas de trabalho, por vezes árduo e nem sempre nas melhores condições.
A emigração dos jovens e a Beira Interior
A emigração da BI segue o mesmo rumo da do resto do país em que se insere e que já abordamos atrás, por ventura ainda mais agravada pela proximidade da fronteira e porque muitos destes jovens têm ligações familiares ou de amizade com emigrantes de gerações anteriores que saíram daqui em grande quantidade e que os ajudam a sair e a orientar-se lá fora. Também as causas e as características são as mesmas. Se nos debruçarmos um pouco sobre a situação dos mercados de trabalho (emprego/desemprego) nos principais centros da BI ficamos com uma ideia clara do que leva os jovens a emigrar. Pegando nos valores de dezembro de 2014, o número de desempregados só na Covilhã, Fundão, Castelo Branco, Guarda e Sabugal era, respetivamente, 3.102, 1.668, 3.070, 2.175 e 379 (10.394 no total) dos quais, jovens até 35 anos eram, na mesma ordem, 1.017, 427, 934, 755 e 180 (3.313 no total, ie, 32% do total), para uma oferta mensal de empregos de 152, 13, 120, 103 e 4 respetivamente (392 empregos no total, ie, 4% da procura). Estes números dizem tudo sobre a fuga dos jovens para o estrangeiros e sobre as verdadeiras causas que estão na sua origem.
Por: José R. Pires Manso
* Prof. catedrático da Universidade da Beira Interior e responsável do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social