A discussão política é sempre um espaço e um tempo importante, mas reservo dúvidas de que a discussão se deva centrar apenas na liderança quando há que discutir caminhos e discursos credíveis e construtores de uma esquerda mais equilibrada, mais clara, mais distante de alguns jargões repetidos à exaustão. Um líder é obviamente necessário e agregador, mas vivemos um tempo mediatizado onde as figuras são projeções de imagem construída. Podemos fazer um biltre virar Santo.
A minha reflexão atual está muito na perceção das realidades construídas (imagens da realidade desfocadas ou laboradas com um propósito), na importância dos discursos “politicamente correctos” (que obviamente limitam a verdade para se apoucarem em ser corretos) e portanto está em nomes como Félix Duque, Clément Rosset, Domingo Hérnandez Sánchez e tentar compreender como se formam projeções públicas de pessoas e processos de realidade construída, sobrepondo-se à realidade. A pintura não corresponde à foto. Isto é valido para os candidatos do PS e é válido ao mecanismo mediático com que construímos verdades muito irreais. O que me indigna, nas realidades construídas e nas opiniões alimentadas perversamente, é a quase incapacidade do visado em se defender da orquestração. Um solista no meio de uma ofensiva sonora de oitenta tenta fazer-se ouvir, mas acaba abafado. Houve desde o seu começo na liderança um processo urdido contra Seguro, onde as premissas são falseadas de modo duvidosamente inocente: 1- que percurso extra político tem Costa que não tenha Seguro ou Passos Coelho? Que empresas e dinheiro privado geriu Costa fazendo diferença no seu percurso? 2- Seguro é “pior” porque nasceu de esforço e de trabalho? Isto dito assim até nos deixa preocupados. O outro vem de uma família melhor e a vida custou-lhe menos! Leiam antes de me comentarem LEIAM e REFLITAM, por exemplo, no que disse Miguel Sousa Tavares no “Expresso”. Percebam como se podem construir imagens e subjugar audiências em matreiros apoucamentos que não são justos nem para Costa nem para Seguro. Desde que lidera o PS que Seguro é zurzido ininterruptamente. Costa granjeia melhor imagem na comunicação social. Porquê? O que levou um a uma imagem melhor que outro? A resposta está no processo construtivo da imagem para um, ou no apoucamento repetido à exaustão para outro. Já sofri dos dois mecanismos e também por isso penso sobre este tema. Não tenho nada que dizer mal de um Costa ou de um Seguro, acho que o PS está bem com qualquer um e se credibiliza em ter este debate entre os dois, mas há aqui um testemunho que não podia deixar de refletir. Parece-me que as diretas abrem o partido a surpresas: e porque não eu?