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«A cultura da pipoca»

Numa inusitada «carta aberta ao Director de O INTERIOR», assinada pelo presidente do Instituto Politécnico da Guarda, e publicada na semana passada, o prof. Constantino Rei criticou veementemente o teor do meu comentário inserto no Editorial da semana anterior. Sem querer dar relevância ao assunto, até por ser compreensível a forma e a defesa dos interesses e da imagem do IPG por parte do seu presidente, não posso deixar de discordar do seu conteúdo.

Assim, e para esclarecimento dos leitores, o Editorial é eminentemente um comentário da atualidade, um conteúdo que expressa, neste caso, sobretudo a opinião do diretor, sem a obrigação de ter alguma imparcialidade ou objetividade.

O texto sobre o qual o presidente do IPG reclama «legitimidade ética e profissional» é claramente opinativo, e não informativo (nem podia ser). Foi escrito antes da conferência, por, na minha opinião, o doutor Miguel Gonçalves ser uma sumidade do facilitismo, e porque do IPG esperamos um caminho para o sucesso assente no «esforço e no trabalho» – o tal «nivelar por cima» a que nos vinha habituando nos tempos mais recentes, «evidenciando qualidade técnica e científica».

Para opinar sobre as teorias ou o caráter argumentativo do doutor Miguel Gonçalves não é preciso assistir a uma conferência em concreto – e não foi sobre uma palestra que escrevi – pois basta acompanhar as intervenções que fez em diferentes palcos. E também é possível ler muita “Opinião”. No artigo “A cultura da pipoca”», de São José Almeida (PÚBLICO, sábado, 20/04/2013), sobre o último ato de Estado do ex-ministro Miguel Relvas como governante, onde se evidenciou o paradigma da conceção de educação e de cultura a que chegámos, e onde Miguel Gonçalves dissertou sobre empreendedorismo referindo que «se tu não consegues arranjar 100 euros por mês para pagar os estudos, então vais ter muitos problemas na vida, porque até a vender pipocas se arranja 100 euros por mês». E São José Almeida conclui o óbvio: «Mais do que um ataque ao ensino público foi também uma demonstração deste novo tipo de cultura: o da educação pela pipoca». Quem não quiser entender isto que continue a «bater punho» (doutor Miguel Gonçalves dixit).

Luís Baptista-Martins

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