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«A comunidade urbana é um brinquedo do Governo»

Cara a Cara – Entrevista

Perfil:

– Pedro Guedes de Carvalho

– Professor na UBI e coordenador do projecto da marca Serra da Estrela

– Naturalidade: Porto

– Idade: 52 anos

– Currículo: Licenciatura no ISEG, mestrado em Economia Europeia pela Universidade de Coimbra, doutoramento em Economia pela UBI, onde passou um ano e meio a desenvolver projectos no Laboratório de Economia Regional nos Estados Unidos da América

– Hobbies: Cinema e ler

P – Como está o projecto para desenvolver a marca Serra da Estrela?

R – No próximo dia 16 vai haver uma reunião com a equipa toda para apresentar a metodologia a seguir. No final do mês, terá lugar o primeiro grande seminário com os meios de comunicação social para sabermos os principais estrangulamentos da região através de uma retrospectiva do que foi publicado e dito de há uns anos a esta parte. Também pretendemos colocar nesse seminário os dez autarcas envolvidos no estudo, apesar de sabermos que é complicado juntá-los todos. Mas vamos tentar que estejam presentes ou que alguém os represente para dizer o que pensam. A partir do dia 20 de Janeiro, vamos reunir todos os elementos ligados à Serra da Estrela. Também temos duas alunas de mestrado a fazer a caracterização pormenorizada da região e dos dez municípios envolvidos, das actividades existentes e do número de pessoas envolvidas. Vamos fazer um seminário com os proprietários das unidades hoteleiras e de restauração para sabermos o que pensam enquanto agentes do turismo e promover um inquérito nos estabelecimentos para que os turistas possam exprimir as suas opiniões. Até final de Março ou princípio de Abril, teremos o levantamento quase feito. Simultaneamente, vamos concretizando algumas medidas no terreno, como a colocação de cartazes promocionais em pontos específicos nas estradas da região por causa do Euro 2004. Queremos entregar o projecto completo em Julho/Agosto.

P – E o que vão promover?

R – O nosso medo é promover coisas que não temos em condições. A neve demora pouco e quando temos não há condições. As pessoas vão para a serra e demoram mais de meia hora em filas de trânsito, por exemplo. Não queremos promover nada sem que as medidas logísticas estejam no campo. Vamos promover as coisas à volta da Serra, como os castelos ou a gastronomia e não tanto a imagem da Serra-Neve. Vamos ver se as coisas desgarradas, como a eventual construção do casino, não são contraditórias com o projecto da Serra da Estrela. Mas tudo isto está numa fase inicial e só depois de discutirmos com os agentes é que divulgaremos os nossos trunfos, pois a equipa tem consciência de que não é a protagonista mas apenas uma máquina.

P – As iniciativas desgarradas podem pôr em risco o projecto?

R – Não. Acho que todas as iniciativas são louváveis, mas temos que definir a imagem que queremos para a Serra da Estrela. Se for o ambiente, o casino não interessa. Além disso, as medidas anunciadas avulsas podem dar a entender aos turistas coisas que não existem na Serra. Ainda não há um casino, mas um projecto. Para divulgarmos uma imagem na Serra as coisas têm que existir na realidade senão as pessoas vêm cá e não vêem nada, o que é negativo. A ideia do casino é boa se servir para dinamizar os hotéis e o comércio. Mas ou é um casino muito especial ou uma coisita e isso não será muito bom. Todas as medidas devem ser articuladas. A Guarda também quer um casino e não vale a pena ter um tão próximo, ainda para mais quando há um casino na Figueira da Foz e em Espinho. A existir casino, tem que se definir o melhor local para o fixar.

P – 2004 será o ano da retoma económica em Portugal?

R – Os maiores economistas apontam para 2005. Este ano pode ser um ano de mudança anímica, ou seja, de deixarmos de ser tão pessimistas. 2004 servirá para resolver problemas económicos e para os agentes apostarem cá. O Euro pode criar algo positivo. Acredito que será um ano para fazer coisas mais positivas.

P – Que perspectivas têm para a região?

R – Estou um pouco preocupado com a comunidade urbana. É um brinquedo do Governo e os autarcas não sabem como fazer a divisão. O mais importante é unirmo-nos em projectos concretos e não andarmos a criar um falso problema. Se dez municípios conseguirem levar em frente um projecto para a Serra da Estrela, podem criar uma energia mais positiva. Com a criação de comunidades, o Governo está a devolver aos municípios um problema que deveria ser ele a resolver. Corremos o risco de fazer uma comunidade urbana e excluir municípios que são ilhas. É a entidade central que deveria definir o mapa da descentralização, esta é uma falsa maneira de resolver o problema e só serve para o Governo se descartar de uma responsabilidade. Os municípios estão a cair neste logro.

P – Se alguns municípios da região não se unirem na futura comunidade das Beiras, o projecto para a Serra da Estrela estará comprometido?

R – Não. São coisas diferentes. Mas é óbvio que se a comunidade urbana contemplasse todos os municípios, a Serra da Estrela teria mais força para reivindicar mais meios. Se não existir comunidade urbana coincidente com a zona da Serra da Estrela é mais complicado pedir recursos.

P – Ainda se julga que a Covilhã vai ficar de fora do Programa de Recuperação de Sectores e Áreas Deprimidas (PRASD) por ter um poder de compra superior a 75 por cento…

R – Nenhum município com mais de 75 por cento da média do rendimento nacional se pode candidatar ao programa para obter fundos. Mas pode fazê-lo se esse município estiver numa região considerada deprimida. A Covilhã e a Guarda são alguns desses exemplos.

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