“Caça-Fantasmas” (2016), que estreou recentemente no nosso país, dificilmente terá uma sequela. Os maus resultados de bilheteira têm atirado o filme para a morte prematura, muito por culpa das fortes críticas que o antecederam. Apesar de ter muito em comum com os dois primeiros, este “blockbuster” não é um “remake” e apresenta uma nova história.
Quando, na semana passada, foi anunciado um novo filme “Ocean’s 8”, mas com intérpretes femininas (ao contrário dos anteriores), ecoou imediatamente na nossa memória o fracasso de “Caça-Fantasmas” (2016). Com quatro protagonistas femininas, a obra realizada por Paul Feig sentiu desde cedo a pressão dos históricos “Caça-Fantasmas” que, nos anos 80, encantaram as audiências. As vozes de descontentamento começaram mal se soube que as protagonistas, desta vez, seriam mulheres. Embora deixasse claro desde o início que se tratava de uma homenagem e não de uma continuação da história, Paul Feig não conseguiu convencer o público.
Numa altura em que somos inundados por “remakes”, “spin-offs” e outras variações, “Caça-Fantasmas” (2016) afastava-se do seu legado para viver por si. Bill Murray, por exemplo, regressa numa pele bem diferente: acha que as caçadoras não passam de uma fraude. Dan Aykroyd, Sigourney Weaver e Ernie Hudson também estão de volta, com pequenas participações que ecoam a memória do seu filme sem se sobreporem ao que se desenvolve à nossa frente.
Uma comédia que cumpre o que promete e um elenco de luxo não chegarão para salvar um filme que, à partida, foi condenado ao fracasso. Ainda antes de Melissa McCarthy e companhia serem desafiadas pelo sobrenatural, já muitos caçavam “fantasmas” fora do próprio filme. Não estando em causa a qualidade de “Caça-Fantasmas” (2016), as críticas fundamentavam-se muitas vezes com preconceitos, até raciais, e estereótipos que, no fundo, viviam em abstrato.
Entre críticas à diferença de salário e oportunidades entre géneros, o “assassínio” de filmes como “Caça-Fantasmas” (2016), com argumentos baseados em sexismo e ideias feitas, poderá contribuir ainda mais para esta disparidade. Não sendo uma questão simples – e muito menos simplista – é nestes pequenos “flops” que percebemos que também o cinema tem muito a fazer para mudar mentalidades. Mas é por isso mesmo que se deve continuar a tentar.
Sara Quelhas*
*Mestre em Estudos Fílmicos e da Imagem pela Universidade de Coimbra
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