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«90 por cento dos participantes na BeirArtesanato têm carteira profissional de artesão»

Cara a Cara – Entrevista

P- Hoje é o primeiro dia da BeirArtesanato. Com que expectativas parte para esta décima quinta edição?

R- Esta edição representa para nós uma responsabilidade acrescida, uma vez que temos um histórico para defender e, por outro lado, um grupo de artesãos que já estão habituados a vir à feira. Não é que exista muito negócio nestes certames, porque não há, mas este tipo de eventos serve sobretudo para dar conhecer e mostrar o seu trabalho. Para além disso, existe também uma vertente que considero fundamental e que se prende com o facto de procurarmos manter uma ligação com as escolas, que virão ao Nerga, em dias estabelecidos, ver os artesãos trabalhar. Este intercâmbio entre aquilo que é o artesanato e quem o faz com os jovens do ensino básico parece-nos uma mais-valia. De resto, perto de 90 por cento dos participantes têm carteira profissional de artesão, o que nos honra muito e permite elevar a qualidade da feira.

P- Já está definida a periodicidade da BeirArtesanato, tendo em conta que, por exemplo, no ano passado não se realizou?

R- A BeirArtesanato é apoiada desde 2003 pelo Vector 2 do programa Leader +, resultando, por outro lado, de uma parceria entre a ProRaia e a Raia Histórica, que tem sede em Trancoso. Deste modo, foi feito um acordo que prevê a organização da BeirArtesanato na Guarda e, no ano seguinte, da feira de Trancoso. No entanto, no ano passado optámos por realizar, na mesma altura, uma outra feira no Nerga, a Multisectorial.

P- Sente que existem alguns entraves à realização deste tipo de iniciativas?

R- Da parte do Nerga, da Proraia e Raia Histórica, temos procurado sempre olhar para os empresários da mesma forma, sejam eles micro ou macroempresários. Encaramos o artesão como uma unidade produtiva da região e, por isso, olhamos para ele da mesma forma como olhamos para as maiores fábricas do distrito. Sentimos necessidade de o apoiar, de o trazer e de mostrar o excelente trabalho que promove no contexto regional, porque se trata de uma arte. Há uns tempos ouvi uma definição de artesanato que entendo ser extremamente apropriada: “Cada peça é única”.

P- Entende, por isso, que estes eventos poderão ser um meio importante para desenvolver e promover o artesanato regional?

R- Sim, em absoluto. Antes de tudo, permite aos artesãos usufruírem de um espaço que é privilegiado, alcançarem novos clientes e novos negócios. Para além disso, estas feiras são sempre uma forma de encontrarem novos canais para escoar os seus produtos. Nem sempre quem vem aqui o faz para comprar, mas sim para procurar futuros negócios.

P- O que é que não vamos encontrar na BeirArtesanto e, por outro lado, quais são as principais novidades desta décima quinta edição?

R- Não se vai poder encontrar, certamente, falta de profissionalismo. Estarão no certame artesãos que são do mais profissional que conheço, pessoas que se dedicam de alma e coração a uma arte que desenvolvem, muitas vezes, com conhecimentos empíricos passados através das gerações. Não vão existir momentos aborrecidos ou falta de animação. Em matéria de novidades, vamos ter uma panóplia muito grande de artesãos, sendo que muitos deles participam pela primeira vez. Por outro lado, este ano daremos particular enfâse à cestaria e à cerâmica. Vamos ter alguns espectáculos, como já vem sendo hábito, uma vez que privilegiamos sempre a vertente lúdica e de animação.

P- Em parceria com a ProRaia, o Nerga editou recentemente duas publicações sobre o artesanato dos concelhos da Guarda e Sabugal. Trata-se de uma iniciativa a alargar a outros concelhos?

R- Esses livros foram feitos e promovidos por uma pessoa que faz parte da história do Nerga, que é o professor Madeira Grilo. Na apresentação dos livros, sugeri, em jeito de desafio, e uma vez que ele ia abandonar as suas funções, que se fizesse um livro de artesanato sobre todo o distrito. Neste momento, esse projecto está em estudo, mas tem que contar obrigatoriamente com a vontade do professor e tem de ser, sobretudo, uma iniciativa onde entrem as diversas associações Leader que cobrem o distrito. Assim que consigamos fazer isso, acredito que poderemos fazer um excelente livro, como merecem os nossos artesãos.

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