É engraçado, o processo de aprendizagem. Sobretudo quando ainda somos crianças e tudo nos parece novo, brilhante e divertido. E com a experiência é que se aprende. O episódio que vou passar a contar é um caso real (não tentem fazer em casa).
Não me lembro se era um belo dia ou não. Devia ter uns quatro ou cinco anitos e havia uma questão que me andava a incomodar imenso (já na altura eu era céptica). Tanto a minha mãe como a minha avó insistiam vezes sem conta que quando se dizia “palavras feias” o Jesus nos castigava. Sim, pois. Mas a verdade é que tinha medo de as dizer exactamente porque, quando somos pequenitos, acreditamos em tudo o que nos é dito. Ou seja, a história que me contaram foi eficaz… por uns tempos.
Quis pôr à prova a teoria. Ganhei coragem e fechei-me no quarto sozinha. Respirei fundo, preparei-me para o que quer que fosse que aí vinha. Tinha de começar por uma fraquinha; se sobrevivesse, experimentava as outras. Pronunciei então, muito baixinho: “porra…”. Depois, encolhi-me toda a um canto com o coraçãozinho a bater-me aflito, à espera de raios e coriscos e trovões na minha direcção (era o que acontecia nos bonecos sempre que alguém se portava mal). Mas nada.
Recompus-me. A segunda já não foi tão difícil de dizer, nem tão inocente como a primeira. Também nada aconteceu. Depois disse-as todas já com um sorriso na cara, porque não sabia se era a única menina no mundo que tinha sobrevivido ao defrontar-se com os poderes do Jesus ou se simplesmente a minha mãe tinha inventado aquela história toda. Nem era importante: tinha-me sabido bem, sentia-me mais velha, respeitável.
No dia seguinte fui às compras com a minha mãe. Ela não me quis comprar qualquer coisa, então eu pensei: “Bem, vamos lá fazer como os adultos e deitar a raiva toda cá para fora” e comecei a disparar todos os palavrões que me ocorreram. Claro que bastou dizer um e meio até sentir uma grande palmada no rabo. Seria? Virei-me de repente para trás… Não, não era Jesus. Era mesmo a minha mãe.
Diana Margarido
Nº3, 11ºE