Privei de perto com Mário Soares duas vezes, a primeira pela mão de Maria Belo nas Conferências que ela organizou no Convento da Arrábida, sobre o Século XX português, e na segunda na minha Escola (a ESEG na altura), pela mão do meu diretor e amigo Joaquim Brigas.
Em ambas as vezes foi entusiasmante e fiquei com histórias para contar que guardo comigo com ternura. Depois do 25 de Abril tínhamo-nos cruzado algumas vezes, sempre nos lados opostos da barricada. No dia do comício da Fonte Luminosa tinha tido uma reunião, pela manhã, com outros camaradas organizada pelos SUV (Soldados Unidos Vencerão) precisamente numa sala de aula do Técnico. Depois, com outros amigos, por lá ficámos nas escadarias do IST a assistir ao “Termidor” da Revolução dos cravos – o espetáculo do fim de uma Revolução.
Foi preciso chegar a estes últimos anos para, na Aula Magna, voltarmos a acertar as agulhas. Esse dia talvez tenha sido o princípio da geringonça. O que eu tenho a certeza absoluta é que sem Mário Soares e sem Álvaro Cunhal nunca teria existido 25 de Abril e eu nunca teria deixado de ser um exilado na minha própria terra. Estes são os meus heróis do Século XX português, desde que me lembro que fui criticado pela minha necessidade de “heróis”, mas como vou eu viver sem estas referências? Eles eram os símbolos da luta pela Liberdade e pela Justiça Social. Sem eles nunca teria tido Uma Vida digna desse nome. Sinto-me triste e grato.
Mário Gomes