Nesta crónica podia falar de muitos assuntos que, penso, merecem reflexão.
Podia falar, por exemplo, da contratação de uma assessora por parte da Câmara Municipal da Guarda (CMG) e dos seus custos, não para a Câmara, mas para os contribuintes.
Podia falar, por exemplo, da linha, cada vez mais acentuada, da contratação de prestadores de serviços externos por parte da CMG.
Podia falar, por exemplo, da nova marca da Guarda, dos seus custos diretos e indiretos e da sua necessidade, ou não, face ao contexto económico/financeiro que vivemos.
Podia falar, por exemplo, da lista de projetos prioritários divulgada pelo governo e da sua “oportunidade” eleitoralista.
Podia falar, por exemplo, da “cambalhota” do presidente da concelhia laranja da Guarda em relação às eleições para a distrital do mesmo partido.
Podia falar, por exemplo, no impasse existente na escolha do secretário executivo, ou secretários executivos (já ouvi falar na hipótese, absurda, de serem três), da CIM das Beiras e Serra da Estrela.
Podia falar, por exemplo, na confusão lançada sobre o futuro das maternidades, e outras valências hospitalares, na nossa região.
Podia falar, por exemplo, da atividade política em Portugal do, ainda, presidente da Comissão Europeia e provável candidato à Presidência da República.
Podia falar…
Mas na semana em que se festejam os 40 anos da festa da LIBERDADE só posso falar no 25 de ABRIL.
Temos o dever e a obrigação de recordar.
Recordar a ausência de liberdade, as prisões políticas, a tortura, a censura, a guerra e o isolamento internacional em que Portugal vivia.
Recordar todos aqueles, homens e mulheres, que deram a vida pela liberdade, os estudantes que nas universidades desenvolveram as lutas estudantis, os artistas, os cantores de intervenção e toda a população que participou nessa madrugada em que aconteceu a Liberdade.
Recordar os militares de Abril que foram determinantes para que hoje vivamos em liberdade.
O 25 de Abril é, por tudo isto, compreender e tornar presente o dia em que o povo sonhou ser possível alcançar as conquistas e as esperanças que foram a luta de uma vida.
O 25 de Abril é não esquecer os sonhos e as utopias, tendo presente as dificuldades da concretização de tais sonhos.
O 25 de Abril é reconhecer as diferentes conceções e modelos de sociedade.
O 25 de Abril é recordar o fim do isolamento a que estávamos votados e que possibilitou encontrar o nosso espaço natural na Europa. E é afirmar esta Europa na política internacional, reconhecendo os seus valores como referências universais.
O 25 de Abril é falar do fim da guerra, sem esquecer os milhares de mortos e feridos que, durante treze anos, enlutaram muitas famílias portuguesas.
O 25 de Abril é ter presente os novos países que conquistaram a sua independência e sublinhar a importância da lusofonia e da língua portuguesa.
O 25 de Abril é reconhecer, hoje, que a vida não tem sido fácil, nomeadamente para os mais desfavorecidos, e que o futuro se apresenta incerto.
Não foram alcançadas todas as metas desejadas, mas não podem restar dúvidas, hoje, de que o balanço, apesar dos retrocessos destes últimos anos, é francamente positivo. Portugal é um País diferente do que existia em 1974 e negar esta verdade é miopia política.
E num enorme respeito e consideração que tenho por eles, direi que não concordo nada com a pretensão dos militares de Abril em usarem da palavra na sessão solene na Assembleia da República (AR). Na sala das sessões “fala” quem foi eleito. E embora a resposta da Sra. Presidente da AR tenha sido de uma infelicidade atroz não há aqui qualquer tentativa de censura. Falarão noutro local e a comunicação social far-nos-á chegar, com amplificação, o que dizerem.
Viva o 25 de Abril!
Por: Fernando Cabral