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2004 – Um ano de classe!

A perspectiva e as opiniões sobre o ano que agora termina no nosso país, dependem naturalmente de quem estamos a falar, no fundo da perspectiva de classes com que se olha. Se analisarmos a situação de uns poucos (sem grande imaginação pensemos no clube de grandes patrões reunidos em torno do chamado “Compromisso Portugal”) verificamos que foi mais um ano de fabulosos lucros e de “grandes oportunidades de negócio”, de apropriação criminosa do valioso património do estado, bem como, de sectores tidos até ao momento como sendo áreas sociais inseparáveis do seu papel (Saúde, Educação e Segurança Social), de compadrio e clientelismo onde imperou a distribuição de lugares e ordenados ofensivos para os trabalhadores (o caso dos 3600 contos de Celeste Cardona na CGD), de partilha e distribuição dos negócios florescentes com a Guerra Imperialista que destrói o Iraque e o seu povo.

Agora, o que dizer, em termos de balanço, aos mais de 500.000 desempregados, aos trabalhadores da administração pública e dos sectores privados que viram o congelamento dos seus salários, à juventude que lhe foi negado o direito ao trabalho com direitos, aos estudantes do ensino superior com o agravamento das propinas, às mulheres que se viram obrigadas a recorrer ao aborto clandestino e que por essa via se sentaram no banco dos réus como se fossem criminosas, aos pequenos e médios empresários cada vez mais dependentes e destruídos pelos grandes monopólios, aos professores a quem foi negada a colocação (quando tanta falta fazem) no sistema de ensino, aos imigrantes a quem foi negada a sua legalização e onde se acentuou a exploração, às populações do interior do país que viram adiadas medidas estruturantes para o seu futuro (Regadio da Cova da Beira; Plano Integrado de Desenvolvimento; criação de riqueza e de emprego) e se procurou avançar com as portagens num conjunto de vias rodoviárias.

Mas não houve novidades? Houve! A luta conduzida pelos trabalhadores, pela juventude, pelas mulheres, pelas populações do Interior, assim como o profundo descontentamento e insatisfação dos Portugueses – enfim a luta de classes, levou a que o Presidente da República (embora tardiamente, pois o povo já havia dado um sinal claro nas últimas eleições europeias) desse por insustentável a continuação deste Governo e devolvesse a palavra a todos nós.

O que marca este ano de 2004, é a não resignação dos trabalhadores e do povo português à política de direita. Apesar das poderosas máquinas de propaganda, das sistemáticas tentativas de desviar a atenção e a opinião das pessoas dos principais problemas e causas que lhe estão na origem – exemplos acabados desta ideia é a manipulação em torno da Guerra no Iraque e novela mediática onde a direita se procura vitimizar face à decisão do Presidente – das limitações à liberdade sindical que começa na precariedade dos vínculos e termina com as imposições do pacote laboral, está hoje, uma vez mais demonstrado que lutar valeu e vale a pena, e esse é naturalmente o caminho.

Em 2004, celebrámos os 30 anos sobre o 25 de Abril. Foram comemorações com forte conteúdo e participação popular (em alguns casos, como na Covilhã, ao arrepio das tentativas de silenciamento por parte da autarquia) não só de valorização das amplas conquistas da nossa revolução, como também de confiança e esperança nos valores e ideais de Abril. Em 2004 a história não só não andou para trás, como está longe de ficar por aqui.

* Membro da Comissão Política do Comité Central do PCP

Por: Vasco Cardoso

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