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18 anos de ensino superior na Guarda

Opinião

Como primeiro dado de reflexão, as estatísticas oficiais indicam que no distrito da Guarda (onde o IPG é o único estabelecimento de ensino superior), no ano 2000 havia 4.181 alunos inscritos no ensino superior, em 2010 esse número tinha decaído para 2.920 e na atualidade são cerca de 2.800 os alunos que frequentam este estabelecimento de ensino.

Se é verdade que na década de 2000 a 2010 o decréscimo de número de alunos foi brutal (-30%) tendo continuado a trajetória descendente até 2015 (2.612 alunos), desde então este número estabilizou e tem vindo a recuperar ligeiramente (crescimento de 5% nos últimos 3 anos).

Muitos são os fatores que contribuíram para esta tendência, sendo que grande parte são fatores externos e estruturais, mas alguma (ou muita) inércia interna não pode deixar de ser salientada.

Se estes dados negativos são uma realidade, na verdade muito mudou no ensino superior na Guarda, e no país, sobretudo deste o ano 2007: a entrada em vigor do RJIES (Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior), o novo Estatuto da Carreira Docente e sobretudo a entrada em funcionamento da A3ES (Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior), transformaram (não necessariamente para melhor) a realidade do ensino superior em Portugal e, naturalmente também na Guarda. Por isso, qualquer comparação da realidade do início do século com a atualidade deve ser ponderada e contextualizada. Realidades que não são visíveis nem percetíveis para quem nos olha do lado de fora.

Para além das condicionantes externas, todos temos no entanto uma quota-parte de responsabilidade nesta evolução: dirigentes, professores, não docentes e comunidade externa. Os dirigentes que não tivemos a capacidade, a visão e a imaginação de antecipar alguns problemas e corrigir trajetórias; os docentes que continuam com grande passividade e sem reação, presos a um modelo que não existe mais, como se a responsabilidade na busca de soluções seja de outros; e uma comunidade que continua a não “acarinhar” e a não reconhecer de forma mais efetiva a importância estratégica do IPG para a sustentabilidade da cidade e da região.

É no entanto inegável que o IPG é hoje uma instituição muito mais qualificada e recuperou grande parte da sua imagem e prestígio, ao ponto de, no último ano letivo, ter tido, de entre todos os politécnicos do interior do país, o melhor desempenho (medido em termos de taxa de ocupação de vagas do concurso nacional de acesso).

São muitos, e cada vez mais, os projetos, as parcerias e o envolvimento do IPG e dos seus profissionais com a comunidade envolvente; cresceu exponencialmente a capacidade de atração de estudantes internacionais (que está associada a novos e diferentes problemas e desafios, tanto para o Instituto como para a cidade), temos hoje um corpo docente altamente qualificado (mais de 70% dos docentes são Doutorados ou especialistas), cresce continuamente (em quantidade e em qualidade) a produção científica do corpo docente, mas….

Mas não chega. Podemos e devemos fazer mais e melhor; perderam-se oportunidades, não se vislumbram estratégias políticas coerentes e sustentáveis e por isso são enormes os desafios e as dificuldades que o futuro nos reserva. Só unidos, empenhados, com sentido de responsabilidade e profissionalismo, conseguiremos navegar neste mar em constante turbulência e de rumo incerto.

Por: Constantino Rei

* Presidente do Instituto Politécnico da Guarda (IPG)

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