“O Interior” saiu pela primeira vez nas bancas numa manhã de janeiro de 2000. Na altura, poucos imaginavam que Portugal estava a entrar numa longa noite de inverno. Entre 2000-2010, a economia nacional cresceu a uma taxa média anual de 0,7%. Na semana passada, ficámos oficialmente a saber que o PIB decresceu 3,2% em 2012 e a taxa de desemprego atingiu, no último trimestre, o valor recorde de 16,9%, o que se traduz em cerca de 1 milhão de portugueses desempregados.
E, no entanto, em janeiro de 2001, o início da circulação do euro parecia anunciar uma economia nacional mais competitiva e sólida. Pelo menos era nisso que acreditava a larga maioria dos políticos e economistas indígenas. O raciocínio era simples. Sem as muletas das desvalorizações cambiais e da inflação, as empresas seriam forçadas a competir pela produtividade e pela inovação. Como é sabido, não foi nada disso que aconteceu. Os políticos e os economistas sonhavam com mais competitividade e o resultado foi uma bebedeira de endividamento do Estado e dos particulares, motivado pelas baixas taxas de juro. Era uma questão de tempo até batermos na parede. A crise internacional veio apenas acelerar o inevitável. Hoje, estamos a pagar a fatura.
Em dezembro de 2001, enquanto António Guterres anunciava ao país a sua fuga do “pântano”, Maria do Carmo Borges ganhava a câmara por uma unha negra. Lançou alguns projetos e infraestruturas culturais, como o Centro de Estudos Ibéricos, o TMG, a Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, o Polis. Não se tratava propriamente de um plano estratégico, mas apenas de aproveitar as migalhas dos fundos estruturais concedidas pelo poder central ao interior. A plataforma logística, ideia proposta por Augusto Mateus, podia realmente ter gerado riqueza e empregos, mas o projeto foi-se arrastando e acabou por perder o prazo de validade.
Com a ascensão de José Sócrates a secretário-geral do PS, o partido achou por bem correr com a senhora. A ideia era tirar dividendos da “magistratura de influência” de Joaquim Valente junto do seu amigo “Zé”, entretanto alcandorado a primeiro-ministro em março de 2005. A julgar pelo tempo passado fora da Guarda, acredito que Valente tenha de facto manobrado imenso nos corredores do Terreiro do Paço. Desgraçadamente, a Guarda não lucrou muito com essas manobras, com a exceção, talvez, das obras no hospital. Valente inaugurou algumas das obras lançadas pela sua antecessora (a biblioteca e o Parque Polis, em, respetivamente, 2008 e 2007), meteu mais 200 funcionários na Câmara, aumentou o passivo, mandou arranjar passeios e arrasar com o quiosque da Ti Jaquina. Eis em traços largos a “obra” de Valente. Pelo caminho, ficou (e ainda bem) o Guarda-Mall – a reconversão do mercado municipal num centro comercial. Empresas emblemáticas como a Delphi e a Gonçalves e Gonçalves fecharam portas e centenas de pessoas ficaram no desemprego. O centro comercial Vivaci, inaugurado em novembro de 2008, e o Retail Park foram investimentos importantes mas insuficientes para estancar a migração e a emigração dos mais jovens. Infelizmente, “ficar” é cada vez menos uma opção.
Por: José Carlos Alexandre