A Rádio Altitude é uma referência na comunicação a nível nacional: é a rádio local mais antiga do país e a segunda emissora mais antiga da rádio portuguesa ainda em atividade.
Começou a emitir regularmente a 29 de julho de 1948, mas a sua história, única e identitária, iniciou-se um pouco antes, quando em 1946 houve as primeiras emissões no antigo Sanatório Sousa Martins para promover «certas distrações» aos doentes internados. A Rádio nasceu pelas mãos dos doentes e foi evoluindo passando a ser não apenas uma forma de «distração» dos internados no Sanatório para se afirmar como a voz da Guarda, da cidade e da região.
Durante anos ouviu-se em Onda Média por todo o interior norte e centro, fez companhia a gerações de pessoas, contribuiu para uma sociedade menos isolada. Em 1974 esteve do lado certo da história, informando sobre as principais incidências do 25 de Abril na região e abrindo o microfone a tantas pessoas que quiseram opinar e debater a liberdade e a democracia. E hoje, em FM, continua a ser uma referência regional.
É esse património de afetos, essa presença na nossa vida, na nossa memória e na história da cidade da Guarda e da região que fazem da Rádio Altitude muito mais do que uma estação emissora. São 73 anos de sentir e viver com a voz ou a companhia especial de algo que “é nosso” e que nos transmite novidades e emoções há dezenas de anos como ninguém.
Quis o destino que, enquanto comemoramos os 21 anos do Jornal O INTERIOR, assuma também a direção da Rádio Altitude. As imensas dificuldades de contexto e as consequências de meses de pandemia promoveram mais pressão e dificuldades acrescidas sobre todos. E determinaram arduidades inexcedíveis na Rádio. Acedi ao honroso convite que me foi feito por José Luís Carrilho de Almeida, depois de ponderada a negativa e percebidas algumas das muitas dificuldades, mas ainda longe de conhecer a situação real da emissora. Recebo uma empresa sem meios financeiros, uma emissora sem recursos humanos, uma rádio sem programas – em roda-livre. Perante duas opções – fechar ou vender, que há algum tempo estavam sobre a mesa – José Luís Carrilho de Almeida escolheu uma 3ª via, a mais difícil, a única que garante liberdade editorial: recomeçar, renovar, recuperar a mais antiga rádio local portuguesa, e confiou-me essa tarefa. A mim, que fui proscrito durante 17 anos nesta rádio, a que regresso agora para a tentar salvar – uma emissora que volta a abrir a porta a todos e quer ser de novo a casa de todos. Sejam bem-vindos, de novo!
Como bem sabemos, «administrar na abundância não exige talento maior. Já gerir na carência está ao alcance de poucos».
É aqui que estamos, sem campo seguro, a meio de uma pandemia, com o país fechado e a economia em colapso, sem sabermos o que nos espera. Mas com a vontade, a energia e as ideias que nos permitirão recuperar. Com a ajuda de todos.
Estas palavras podem ser percebidas como um pathos aristotélico ao âmago da população, mas esta é a realidade, uma realidade que precisa da colaboração de todos. Vulnerável como nunca, a Rádio Altitude é um património dos ouvintes, dos clientes, dos guardenses e dos beirões, dos muitos colaboradores e amantes da mais antiga emissora portuguesa. Vamos ouvir e envolver todos os colaboradores e amigos da Altitude para recuperarmos a ilusão e construirmos um novo projeto radiofónico moderno, sério e de qualidade…
O meu desiderato é o nosso desiderato, de todos os que abnegadamente ainda trabalham na Rádio, com paixão e brio, que sabem que a sua história é apenas uma parte da imensa história desta emissora. Entre todos vamos reconstruir a voz da cidade e da região – porque o futuro da região vai passar por aqui, pela Rádio Altitude e pelo Jornal O INTERIOR – a partir de hoje, com uma redação única, comum, na antiga Mata do Sanatório.
Esta é a vossa casa. Contamos com todos.