Nada. Nada de nada. Isto anda tão fraco, meus senhores. O Corta! nunca como agora se viu tão indeciso em relação aos filmes a ver para depois aqui serem comentados. Entre obras que nos surgem como fracas cópias de outros filmes já de si fraquíssimos (olá Reino dos Céus), ou pseudo-quaisquer-coisas que estes dias de Verão iminente nos obrigam de imediato a recusar, são poucos ou nenhuns os filmes que sobram. E enquanto não chegam propostas aparentemente mais refrescantes, como Sin City, Batman, ou o último Tim Burton, por aqui fica-se sem vontade de ver e criticar seja o que for. Fechar as portas já foi hipótese, mas dias melhores irão de certeza chegar. A esperança está moribunda mas não morreu.
Ainda assim, vamos deixar dois conselhos para os próximos dias. Visto pelo Corta! durante a primeira edição do festival Indie Lisboa, no ano passado, o mexicano Temporada de Patos estreia (apenas) agora nas salas nacionais. Mais vale tarde que nunca, dirão alguns. Sim, talvez, mas não deixa de ser imenso tempo. Na nossa memória, da obra de estreia do realizador Fernando Eimbcke, retemos a simpatia que o objecto transmite, de principio a fim. Filme de pequenas coisas que se fazem quando nada há para fazer, limitado praticamente a quatro paredes de um andar, o filme vive das suas personagens: dois jovens, que nunca imaginaram que pedir uma simples pizza pudesse mudar tanto o seu dia; um entregador de pizzas desesperado e disposto a tudo para combater aquilo que julga serem injustiças, e uma misteriosa vizinha, cozinheira responsável de um bem disposto bolo. Só isto e todo um filme nasce. Sem pretensões a nada mais que uma simplicidade cativante, entre o pouco ou o nada que vai acontecendo, e que afinal acaba até por ser mais do que o esperado. Pequenas situações para um filme que nunca pretende ser grande mas que por vezes disso se aproxima. Por vezes.
E o cinema português lá conseguiu novamente a tarefa hercúlea de colocar mais um dos seus filmes em cartaz. Mais um para ser esquecido por todos e criticado por muitos, mesmo que nem o cheguem jamais a ver. Desta vez é Adriana, de Margarida Gil, a inaugurar a avalanche de filmes portugueses quase a estrear com nomes próprios usados como títulos (a seguir chegam Alice e Odete, e só não chega mais um com tal característica, porque Manuel Mozos, de Xavier, actualmente em rodagem, já pensa mudar o título ao seu).
Primeira pergunta que se coloca. Este é mais um daqueles filmes tipicamente português, sem acção e onde no fim nada se percebe? Não… e sim. Começando num registo de fábula, para rapidamente, sem aviso ao espectador, mergulhar na comédia, e depois se passear placidamente pelo drama, Adriana nunca chega a definir muito bem quem é e ao que vem. Lutando em três frentes diferentes há sempre a hipótese de acertar em cheio numa delas. Infelizmente tal não acontece. A fábula é muito rapidamente esquecida. A comédia, bem, a comédia, é do que mais desconcertante se tem feito no cinema português. É uma comédia inesperada, surgindo sempre sem dar tempo a que uma pessoa se prepare. Quase sempre só passados alguns segundos nos chegamos a aperceber que aquilo metia realmente piada, ou era suposto estar ali para isso. Estranho. Quanto ao drama, fica-se demasiado por um lado caricatural das suas principais personagens, revelando uma superficialidade nos acontecimentos que impedem seja o que for.
Sim, talvez não passe de mais um filme tipicamente português. Mas desde quando todos os filmes portugueses são maus? Este não será dos melhores, mas que é superior a muita coisa de fora que por aí se anda a ver, disso não restam muitas dúvidas.
Por: Hugo Sousa
cinecorta@hotmail.com