Enquanto discutíamos o plano de vacinação, como uma luz sobre a escuridão da pandemia, uma nova estirpe altamente contagiosa do coronavírus descoberta no Reino Unido está a motivar reações em toda a Europa. E volta a colocar-nos perante o mais sombrio dos tempos.
O pânico regressou, e a capacidade de reagir não chegou ao canal da Mancha. A Europa isolou o Reino Unido com um Brexit instantâneo. Os britânicos aturdidos, e preparados para celebrar o Brexit em definitivo, ficam isolados do mundo, vão sofrer as estopinhas da sua vontade de separação da Europa.
A França fechou-lhes as fronteiras e Portugal e Espanha e o mundo encerraram os caminhos livres aos ingleses e isolaram as ilhas, proibindo ligações aéreas ou exigindo um controlo sanitário extremo. Até os “brexiteiros” mais radicais estão desorientados, sem perceberem o que lhes caiu em cima enquanto lançam foguetes para celebrar o isolamento.
A nova mutação do vírus é «uma tragédia» para os ingleses e para o mundo. Os ingleses vão ficar sozinhos nesta fase, mas, mais do que uma vontade punitiva (que a soberba britânica até poderia merecer), será a solidariedade que poderá recuperar o alento e a esperança, na Europa e no mundo. Num tempo em que descobrimos que a globalização tem tanto de positivo, com o mundo a juntar-se para se defender de um vírus, também agora temos de caminhar juntos e não isolar os ingleses. You’ll never walk alone tem de ser cantado por todos, nestes tempos em que ninguém pode caminhar sozinho, mesmo quando Boris Johnson prefere exibir uma vaidade vã contra o resto da Europa, como recordou Manuel Carvalho, no “Público” – ainda que nos apeteça isolar os que preferiram o «orgulhosamente sós», mas essa seria a pior das formas de começar o pós-Brexit. E seria o pior dos caminhos de procurar recuperar uma Europa onde a imunidade ao coronavírus ainda está muito longe.
Entre nós, estranhamente, os números de contágios continuam altos e os confinamentos de fim de semana permitiram o “aplanar” da curva, mas sem confinamento mais efetivo não conseguiremos reduzir a pandemia. A “liberalização” natalícia, com liberdade de movimentos e encontros familiares, poderá ser trágica – são muitos os emigrantes que vieram passar o Natal com as famílias e são muitas as pessoas que regressaram às nossas aldeias e vilas contribuindo com as suas visitas aos familiares para, desde os feriados, termos a Beira Interior com “risco elevado”. Os negacionistas, maluquinhos e irresponsáveis, que andam por aí sem serem cuidadosos e não respeitando nada nem ninguém, deviam ser responsabilizados pela sua imbecilidade e pelos prejuízos em relação à saúde pública e às consequências económicas dessa irresponsabilidade. Porque a responsabilidade é de todos. Não basta dizer que devemos cumprir as regras da DGS, é preciso cumpri-las e manter os cuidados sanitários, a distância física com os demais e evitar celebrações excessivas. Em janeiro veremos os resultados da falta de cuidados no Natal. Com a terceira vaga de Covid-19 a chegar, ainda não conseguimos controlar a segunda…
Entretanto, com responsabilidade, celebremos o mais estranho Natal das nossas vidas.
Aos nossos leitores e amigos, votos de Feliz Natal.