Os supermercados Pingo Doce vão abrir mais cedo nos próximos dois fins de semana para, segundo a administração do grupo Jerónimo Martins, evitar grandes ajuntamentos dentro das lojas. Assim, nos 121 concelhos com «mais risco de contágio» de pandemia com a determinação de recolher obrigatório a partir das 13 horas, determinada pelo governo no âmbito do Estado de Emergência, que entrou em vigor no passado dia 9, e vai encerrar todo o comércio tradicional sábado de tarde e domingo, permitindo à grande distribuição mais uma fórmula de ganhos extraordinários.
As lojas Pingo Doce não só irão estar abertas até às 22h00, como irão abrir portas às 6h30 para ninguém deixar de encher os carrinhos por falta de tempo. As demais cadeias de distribuição ponderam o assunto…
Ouve-se e não se acredita!
O grupo Jerónimo Martins, dono nomeadamente do Pingo Doce, que paga impostos nos Países Baixos (que agora já não se pode dizer Holanda…), como se isto fosse uma República das Bananas, decidiu que por entre a crise pandémica e o fecho de todo o comércio de retalho, vai abrir mais cedo para vender ainda mais e assim receber por mais horas aqueles que não poderão comprar nas lojas habituais.
Dois terços da atividade económica nacional é originária do retalho e turismo, mas enquanto as lojas de eletrodomésticos, de desporto, sapatarias, relojoarias, livrarias, garrafeiras, pronto a vestir, hotéis, restaurantes, cafés e afins terão as portas fechadas o Pingo Doce vai estar mais horas aberto para vender mercearia, comida (em algumas lojas com restaurante aberto até às 22h00), bebida (alcoólica até às 20h00), sapatos e sapatilhas, cuecas e sutiãs, camisolas e calças de ganga, flores e parafusos, aspiradores e vassouras…
A distribuição mostra a sua força e, de forma irresponsável é, mais uma vez, altamente beneficiada. O pequeno comércio e a restauração a definharem são menosprezados. O governo que irresponsavelmente contribui para esta discriminação devia cumprir com os mínimos de equidade e garantir os pressupostos básicos de justiça. E não pode sacudir a água do capote como fez com os feirantes ao enxotar as responsabilidades para os autarcas. Já chega de irresponsabilidade. Se o governo não tem capacidade de enfrentar a grande distribuição terão de ser os autarcas a carregar o fardo e os cidadãos têm a obrigação de boicotar mais esta esperteza do Pingo Doce.
Luís Baptista-Martins
PS: Entretanto, e depois de toda a contestação, entre os sindicatos que protestam pois os trabalhadores não iriam receber valor extra por trabalharem mais e os autarcas que exigem o cumprimento do horário definido pelas respetivas autarquias, o Pingo Doce fez um comunicado a recuar na sua pretensão. Porém, a inenarrável vontade e a possibilidade de as grandes cadeias de distribuição poderem fazer o que querem ficou, mais uma vez, em evidência.