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Cerca de 50 trabalhadores em risco de despedimento na Sotave

Empresa de lanifícios de Manteigas acusada de querer pagar indemnizações «miseráveis» aos funcionários

Cerca de 50 postos de trabalho estão em risco na Sotave – Sociedade Têxtil dos Amieiros Verdes, S.A., sediada em Manteigas. São pessoas que dedicaram grande parte da sua vida a esta empresa, uma das maiores empregadoras do concelho serrano, e estão agora muito perto de ficar sem trabalho numa idade, a entrar na casa dos 50 anos, em que ainda não podem ir para a reforma e já é muito difícil encontrarem um novo emprego. Também as indemnizações «absolutamente miseráveis» propostas estão a levar os operários ao desespero.

Depois de ter entrado em “lay off” em Janeiro de 2004, os despedimentos que actualmente estão a ser negociados parecem dar mostras de que a empresa manteiguense já conheceu melhores dias. «Estão a tentar despedir mais de 40 trabalhadores», pessoas que ali trabalham desde os 11 anos a receberem actualmente 375 euros por mês, oferecendo-lhe indemnizações «absolutamente miseráveis», acusa António Ferreira, advogado do Sindicato Têxtil da Beira Alta (STBA). Cerca de cinco mil euros a pagar em 51 meses, mais de quatro anos, são as verbas avançadas pela Sotave para alcançar os acordos de rescisão, valores que constituem «30 a 35 por cento dos previstos por lei». Um montante que não agradada nada aos trabalhadores, pois «uma pessoa gasta cinco mil euros num ano e sem fazer nada de mais», queixam-se. «Estamos numa idade em que é demasiado cedo para a reforma e tarde demais para arranjar outro emprego», contestam.

Por outro lado, invocando o «pretexto de salvar a fábrica», a empresa estará a «pressionar os trabalhadores para aceitarem os acordos de rescisão» sob pena do número de funcionários a despedir poder aumentar de forma drástica. Quanto às razões invocadas pelos responsáveis da Sotave para esta onda de despedimentos, elas passam, segundo o advogado, por «não terem dinheiro para continuar a pagar os ordenados». Perante este cenário, António Ferreira considera que o «futuro da empresa poderá estar em risco» e, consequentemente, os cerca de 200 postos de trabalho. Até porque, «circunstancialmente», os trabalhadores vêm-se forçados a recorrer à greve para, de alguma forma, «forçar» a empresa a pagar os seus salários.

Recorde-se que em Janeiro de 2004, a Sotave entrou em “lay off” durante quatro meses, uma medida que levou a que 124 trabalhadores ficassem temporariamente suspensos, com parte dos seus salários a serem suportados pela Segurança Social. Durante este período, os trabalhadores abrangidos pelo “lay off” foram divididos em dois grupos de 62 pessoas, exercendo funções em regime de rotatividade quinzenal. Na altura, a notícia apanhou os trabalhadores e o sindicato de surpresa, mas a administração da empresa garantiu que o futuro da unidade não estava em risco. «A crise conjuntural vivida no primeiro semestre de 2003 leva o Conselho de Administração, numa atitude de prudência, a tomar medidas de carácter transitório, preventivo e construtivo, de modo a minimizar estrangulamentos económicos e financeiros para a empresa», argumentaram na altura os responsáveis. A Sociedade Têxtil dos Amieiros Verdes foi fundada em 1960, após a fusão de algumas empresas existentes em Manteigas com vista a um melhor dimensionamento do processo produtivo. Até à hora do fecho desta edição, não foi possível obter um comentário da administração da Sotave.

Ricardo Cordeiro

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