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Os segredos da Quinta dos Termos

Propriedade de João Carvalho produz desde 2001 vinhos «de qualidade» provenientes de castas tradicionais da Beira Interior

Quem entra na Quinta dos Termos, em Carvalhal Formoso, Belmonte, não consegue deixar de se surpreender. A terra batida e as searas que se encontram à entrada ocultam um verdadeiro Olimpo dos melhores néctares produzidos na Beira Interior, fruto de várias castas tradicionais da região.

Com a Serra da Estrela em pano de fundo, a quinta está rodeada por 40 hectares de vinha divididos entre plantações novas e videiras com 100 anos, que o proprietário João Carvalho trata com uma grande «carinho» desde que adquiriu em 1993 o local onde viveu a infância. Começou por reestruturar as vinhas destruídas pelo aluguer desde o início da década de 80, adquiriu novas parcelas e direitos de plantação, o que perfaz actualmente um total de 160 hectares de propriedade. Por influência do enólogo Virgílio Loureiro, só em 2001 é que João Carvalho, empresário têxtil e professor na UBI, começou a dedicar-se exclusivamente à produção própria de vinho de «grande qualidade». Para isso contribuem as castas seleccionadas, todas «resguardadas dos ventos a Norte e com exposição a Sul». Touriga Nacional, Alfrocheiro Preto, Tinto Roriz, Trincadeira Preta, Jaen, Rufete, Marufo, Baga, Syrah, Síria e Fonte Cal são algumas das especialidades que se podem encontrar em toda a propriedade.

Esta última, tradicional da Beira Interior, e que esteve «completamente abandonada», foi literalmente «apaparicada» pelo produtor por ser uma uva «única em Portugal e no mundo». «Não há nenhum vinho como este no mercado», garante, pelo que irá proceder brevemente à criação de um campo experimental para o desenvolvimento desta casta, com o apoio do Ministério da Agricultura e da Universidade de Agronomia de Lisboa. No entanto, a sua preferência vai para o fruto espremido da Trincadeira. «É a melhor de todas. Não é por acaso que nos Reservas tenho 50 por cento de Trincadeira e só 20 por cento de Jaen e outros 20 por cento de Rufete», explica. O aroma, a cor bastante avermelhada e o paladar suave são as melhores características para o definir.

Controlo rigoroso para melhor qualidade

Só o controlo exigido por João Carvalho na viticultura e produção do vinho permite ter vinhos de «grande qualidade», pelo que o produtor arrisca a dizer que os seus vinhos são «uma excepção» da Beira Interior no panorama nacional. «Os que existem são os mais mal cotados. Não há uma cultura propriamente da vinha: existem poucas vinhas bem tratadas e o vinho faz-se na vinha», afiança, lembrando que, de uma forma geral, as uvas chegam às adegas «muito mal tratadas e depois, por muitos bons que sejam os técnicos ou os enólogos, não há milagres». No seu caso, tudo começa nas vinhas, tratadas segundo as regras da produção integrada, sem quaisquer produtos tóxicos ou nocivos ao ambiente. Apesar de ainda não estar certificada como Agricultura Biológica – o que acontecerá dentro de «quatro ou cinco anos» -, é esse o tratamento que João Carvalho pratica obtendo um produto natural, com baixo teor de sulfitos. Daí que defina os seus vinhos como «a excelência da Natureza».

A partir de 14 de Agosto e até à vindima, há um controlo semanal de maturação, casta a casta, para que a colheita arranque assim que chegam aos 12,5 graus. A vindima é feita para pequenas caixas, durante a madrugada e a manhã, de forma a manter as uvas intocáveis e frescas, evitando assim o desprendimento de bagos. Se isso acontecer, o bago é «deitado fora» para evitar fermentações diferenciais. Já na adega, os brancos são esmagados e desengaçados com rigorosa protecção contra oxidação, com gases inertes. É feita a maceração peculiar pré-fermentativa de parte das uvas, seguindo-se a clarificação do mosto e decantação estática ao longo de 12 horas. A fermentação alcoólica decorre a uma temperatura controlada de 22 graus durante 14 dias, seguindo-se o estágio em depósitos inox, clarificação e estabilização natural durante o Inverno e a Primavera. Já os tintos, permanecem em maturação fermentativa entre 8 a 10 dias, com temperatura crescente de 25, 28 e 30 graus, em ânforas inox. Ocorre depois a fermentação pós-fermentativa durante 15 dias e a fermentação malolática, sendo que o envelhecimento é feito por estágio em barricas de carvalho francês (Allier extra-fino) e Romeno Fino ao longo de vários meses, conforme as castas e o destino final do vinho. Durante esse tempo ocorre a limpeza das barricas, subsituídas ao fim de três anos, para que o vinho possa ganhar mais sabor e aroma.

Os preços

Na Quinta dos Termos, nome motivado por o local se encontrar entre os concelhos de Belmonte e Sabugal e três freguesias (Inguias, Caria e Casteleiro), produzem-se sete qualidades de vinho: Garrafeira, Touriga Nacional Reserva, Colheita Seleccionada, Tinto Reserva, Tinto DOC, Branco Reserva e Fonte Cal. O vinho mais caro é o Garrafeira 2001, com preços a atingir os 13,44 euros, enquanto que o mais barato (Tinto DOC 2003) ronda os 3,76 euros. No entanto, os preços ficam mais em conta se forem adquiridos na Adega, aberta ao público de terça-feira a sábado entre as 9 e as 18 horas.

Liliana Correia

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