P – Henrique Monteiro acusa-o de o ter agredido. O que aconteceu?
R – Respondo à matéria relativa ao processo judicial contra os jornalistas de “O Interior” que considerei ofensiva, pois são afirmações curtas e bastante incisivas. Por exemplo, no editorial, da autoria do director Luís Baptista-Martins, a primeira afirmação é «As acusações proferidas por Rita dos Santos contra a deputada laranja põem em evidência uma forma de fazer política ignóbil». Esta frase pode ter várias leituras, mas se está a referir-se a mim, quero dizer que foi a deputada em causa, e responsável distrital do PSD, que me convidou para o cargo. A mesma que, depois, não fez nada para resolver uma situação conflituosa que já existia quando fui convidado. Não era entre mim ou alguém, mas entre o PSD e o PP. Pelos vistos a situação agudizou-se, mas não por minha culpa. Eu até podia contar muitos episódios lamentáveis, só que não são para aqui chamados. Voltando ao assunto, embora concorde que ninguém é bom juiz em causa própria, a verdade é que se há alguém por dentro dos factos sou eu. Quando Luís Baptista-Martins disse que «a disputa vexatória entre o coordenador e o coordenador adjunto do CAE ilustra o que de pior podemos encontrar no dirigismo político», gostaria de dizer que não houve nenhuma disputa, apenas me defendi quando me atacaram de uma maneira muito baixa. Depois, dirigismo político não se aplica a mim. Não passo nem por cordeiro, nem por lobo, porque fui sempre uma pessoa, nem actuei da forma vergonhosa como se refere. Mas assumo as minhas responsabilidades. Também recuso a afirmação de que «foi vergonhosa e irresponsável» a forma como cheguei ao lugar, pois não precisei de me colocar em bicos de pés para chegar a lado nenhum.
Já o artigo de Rui Isidro é o mais lamentável, porque me acusou de «ser gente sem ética nem preparação para dirigir um serviço público». De onde me conhece a mim e ao meu currículo para fazer tal afirmação?! Quanto à falta de preparação até posso admitir que nunca estamos preparados de todo para nada, mas achei que tinha experiência suficiente e sobretudo vontade para levar o barco a bom porto. Agora sem ética não lho admiti. Eu ensino ética aos bons alunos e orgulho-me por ter tido sempre uma conduta que se rege por altos critérios éticos.
Quanto ao artigo de Luís Martins, onde diz que «protagonistas daí para cá de situações inacreditáveis como quando o coordenador-adjunto foi fechado à chave por Rita dos Santos, tendo sido necessário saltar pela janela para sair do edifício do CAE», isso é matéria de segredo de justiça. Apenas remeto o leitor para visualizar o ridículo da situação que poderia ter sido.
P – Acha que as divergências que existiam no CAE estavam relacionadas com “politiquices”?
R – No CAE não há divergências porque é uma instituição pública. Não fui eu que me ofereci para o lugar. Embora seja uma nomeação política, assumi o cargo no contexto que todos devem conhecer. Nem fui lá tirar qualquer proveito económico, muito pelo contrário, optei pelo vencimento da minha escola, pois já estava no último escalão da carreira do ensino secundário. Iria ganhar menos 100 euros por mês pela tabela da Secretaria-Geral do ministério como pessoa requisitada. Da minha parte nunca houve divergências no CAE. Acho que quem fez uma guerrilha muito dura contra mim deveria ter resolvido os problemas antes de ter aceite a nomeação, porque, a partir do momento em que entraram ali, deviam obedecer hierarquicamente. O CAE tem uma autonomia mínima e tem que fazer de tudo para que o trabalho ande com a máxima eficácia e celeridade. Mas houve alguém que não fez nada, nem “a ponta de um alfinete”. Essa pessoa, com a colaboração de outros, fez eventualmente guerrilha política, mas eu e os meus colaboradores sinceros aguentámos! Não precisávamos da colaboração desleal de certas pessoas para fazermos andar o barco.
P – Mas o que é que aconteceu objectivamente naquele dia?
R – Para minha defesa, penso que não devo falar porque esse caso está ainda em curso.
Mas acho que a verdade virá ao de cima, como o azeite, pode é tardar. Para aqueles que ainda não avaliaram o que se passou, que devem ser muito poucos, o tempo se encarregará de esclarecer tudo.
P – Houve ou não dificuldades de relacionamento institucional com o coordenador adjunto?
R – Para mim “trabalho é trabalho, conhaque é conhaque”. Mesmo que não goste dos olhos de alguém não é isso que, em termos profissionais e se essa for a obrigação profissional e deontológica, que me impede de trabalhar com essa pessoa. Esse é o principal ponto que quero esclarecer. Eu assumi a função de coordenar o serviço, logo todos os outros profissionais, sem excepção, que ali trabalhavam deviam-me obediência. Claro que não é a obediência servil, pois até sou absolutamente tolerante. Mas quem vai trabalhar para depender de alguém, deve obedecer hierarquicamente e se não gosta tem sempre um caminho. Não fui eu que envenenei qualquer relação. Desafio essa pessoa a mostrar e a provar com factos aquilo que fez, e que não se desculpe por eu não lhe ter dado pelouros. O serviço deve funcionar integralmente, não como um conjunto de pequenas quintas. A minha avaliação do seu desempenho nem sequer se resume “à ponta de um alfinete”, agora admito que fez muitas outras coisas, mas disso não quero saber…
P – Na altura disse também que se sentia «um bode expiatório» de Ana Manso. Ainda pensa o mesmo?
R – Volto a subscrever integralmente tudo o que disse à comunicação social. Nunca me esqueço quando a tal senhora deputada me convidou por telefone e insistiu muito para que aceitasse. Eu notei que estava numa grande aflição, pois tinha que resolver uma grande bronca política, a nível local e até nacional, para substituir o então indigitado dr. Álvaro Agostinho. Repeti-lhe várias vezes se sabia quem estava a convidar e ela respondeu que se não soubesse não me convidava. Na altura tratava-a por “tu” – por questões familiares, pois é prima em segundo grau da minha esposa -, agora não a trato por nada… A questão fundamental é que quis controlar, o que para ela parecia vital, as pessoas que iam trabalhar no serviço. A única informação que tive em termos de poder foi dela. Disse-me claramente que o que estava definido a nível partidário era que o PP escolhia um adjunto. Na altura também não tinha razão nenhuma para desconfiar e aceitei, embora tivesse achado um pouco estranho. Mas a verdade é que o tal adjunto talvez já tivesse gizado estrategicamente aceitar o lugar para depois ir obtendo, gradualmente, outras posições. Contudo, para todos os efeitos, as propostas de requisição de destacamento de professores seriam sempre da minha inteira responsabilidade. Depois, talvez a própria líder distrital do PSD se tenha apercebido de que se tinha enganado na escolha da pessoa e descobriu que eu não era uma pessoa de fazer facilmente “vontadinhas”, pois tenho os meus princípios e são eles que regem a minha conduta. A partir de certo momento cortou qualquer comunicação comigo. Perante uma situação de guerrilha, talvez a deputada laranja tenha preferido dar de bandeja um serviço ao PP, então a solução estava à vista. Só que alguém teria que fazer um “forcing” até à exaustão para eu me ir embora. Ponderei muito seriamente fazê-lo, mas tentei aguentar aquilo o mais que podia…
P – Então sente que foi vítima de uma cabala política, tal como afirmou na altura?
R – Não sei se houve uma premeditação clara ou um jogo previamente calculado. Se eu me fosse embora livravam-se de alguém que não fazia o tal jogo que interessava, enquanto deixava igualmente de haver pressão da parte do outro partido da coligação. Acho que esta é conclusão lógica. O termo cabala está agora em desuso, mas quando a utilizei ainda não estava tão gasta. Eu não aceitei o cargo para colher dividendos, talvez tenha sido para sair da rotina, depois de quase 30 anos na docência. E também percebi que, na altura, alguém estava a precisar de mim, talvez tenha caído um pouco na tentação…
P – Sente-se injustiçado?
R – Eu sou crente e acredito naquele provérbio que diz “Deus escreve direito por linhas tortas”. Há a justiça dos homens, que às vezes, momentaneamente, falha. Todos os homens erram e é normal que também haja erros na justiça. Depois há a justiça de Deus…
P – Concorda com a proposta do novo Governo de acabar com determinados lugares de nomeação política?
R – Totalmente. Defendo que lugares como o de coordenador do CAE não devam ser de nomeação política, pois são essencialmente técnicos. E acredito que este Governo, a continuar por este caminho, vai muito bem.