À semelhança do que eu e muitos motards temos feito noutros anos, voltámos ao autódromo do Estoril no passado 17 de Abril para sentirmos na pele e nos ossos o verdadeiro arrepio causado pelas potentes motos GP e apreciar a condução de pilotos prodigiosos.
Como já estive em Jerez (Espanha) para assistir a uma prova da mesma competição, estou em condições de fazer algumas comparações entre duas maneiras de ser, a portuguesa e a espanhola. Ora bem, será pecado gostar de motos?
Será menos interessante ver um piloto fazer curvas a 240 quilómetros por hora, enquanto (…) se debruça controlando forças e centrifugações, do que um futebolista correr e rematar? Parece-me estranho e acabo por não entender como funcionam os organismos de informação e quais são os interesses ou prioridades do nosso país no campo desportivo. Tivemos o Euro 2004, fizemos estradas, pintámos aviões, gastámos milhões em cimento armado, pendurámos bandeiras nas varandas e pudemos ver os jogos na televisão.
Agora recebemos uma prova de grande relevo no mundo da velocidade e ninguém viu um anúncio na televisão. Ninguém se lembra que entram milhares de espanhóis pelas fronteiras e permanecem em Portugal durante dois ou três dias. A prova decorreu e não houve transmissão televisiva em directo ou em diferido, pelo que não é de estranhar que o público seja maioritariamente estrangeiro.
No circuito em Espanha pode-se assistir à prova em óptimas condições e dispõe-se de ecrãs gigantes em todos os sectores para que nada fique por apreciar, isto para não falar dos comentários da corrida, perfeitamente audíveis em qualquer parte do circuito. Em Portugal, nem um único ecrã, enquanto os comentários da prova fizeram-se ouvir de forma muito deficiente e apenas em alguns sectores. Para meu espanto e profundo repúdio, o pior é que a corrida foi sempre comentada em castelhano. Será normal? Seremos normais? Seremos, ao menos, portugueses?
Fernando Birra, Quintas de Sº Bartolomeu (Sabugal)