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«Nunca facilitámos com ninguém»

Cara a Cara – Entrevista

P – O facto do Fornos se ter sagrado campeão a três jornadas do final do campeonato pode dar a ideia de ter sido uma vitória fácil. Foi mesmo assim?

R – Não, de maneira nenhuma. Inicialmente havia quatro equipas – Aguiar, Mêda, Mileu e Pinhelenses – que poderiam ser candidatas ao título. Nunca ninguém se assumiu, mas os Pinhelenses ficaram logo para trás e a Mêda também foi perdendo uns pontos. Sobraram o Mileu e o Aguiar da Beira, que tem uma equipa que joga junta há três ou quatro anos e que era um forte candidato. Mas a vitória no campeonato não foi fácil. Dá essa ideia porque fomos empatar a Aguiar da Beira há três jogos atrás. Se tivéssemos perdido, ficávamos com cinco pontos de vantagem e dava logo outra ideia. Portanto, um resultado ou outro fez com que esta diferença fosse bem grande.

P – Há quem diga que o Fornos entrou no Distrital com uma equipa “de IIIª Divisão Nacional”. Concorda?

R – Não concordo. Só os jogadores que ficaram da época passada é que jogaram na IIIª Divisão. Houve depois mais dois ou três contratados e que também jogaram na IIIª, mas com passagens fugazes. Essa afirmação não é verdadeira porque o Fornos, com este plantel e sem fazer aquisições, por exemplo, irá sentir grandes dificuldades para ficar no Nacional. Tentámos arranjar a melhor equipa possível, essencialmente formada por bons jogadores, e, ao mesmo tempo, bons homens. Digo isto porque na Guarda não há muita tradição em termos futebolísticos e a malta nova tem tendência a facilitar muito no que diz respeito à noite e a maus hábitos, o que faz com que não apareçam frequentemente bons atletas.

P – Quando sentiu que ia ser campeão?

R – Essencialmente depois do jogo com o Aguiar da Beira. Um dos segredos do Fornos foi o de nunca termos facilitado com ninguém. Mesmo em jogos “pequenos”, alguns dos quais nem merecemos ganhar, o nosso espírito foi o de nunca facilitar ou entrar demasiado confiantes a pensar que já tínhamos ganho o jogo. Foi este espírito que nos levou a ganhar o campeonato.

P – Apesar de alguns castigos e lesões, o Fornos mostrou sempre uma grande regularidade. Foi um dos principais segredos para a conquista do título?

R – Sim, porque o Fornos apresentou neste Distrital um plantel muito equilibrado. Havia sempre jogadores que podiam substituir muito bem outros lesionados ou castigados, daí nunca ter havido grandes oscilações.

P – Há algum jogador que tenha sido fundamental na vitória do campeonato?

R – Há vários. Chegou a altura de lhes dizer aquilo que penso, mas não quero estar a individualizar publicamente porque não era justo para os outros. Agora de facto, há quatro/cinco jogadores que fizeram os jogos quase todos. Todos eles, mesmo os que jogaram menos, foram extraordinários e provavelmente, embora sinta que tenha algum mérito, não vai ser fácil encontrar um grupo como este.

P – Já sabe se vai continuar na próxima época?

R – Ainda não. A subida foi conseguida, mas não sei se esta direcção vai ficar no clube. Sei que eles estão bem comigo e eu com eles e que há uma grande identificação. Agora dizer que vou continuar ainda não o posso fazer, mas penso que é um desejo, se calhar de ambas as partes, e é provável que isso aconteça.

P – Gostava, portanto?

R – Claro. Subi o Fornos à IIIª Divisão, treinei-o no Distrital e fiz o meu trabalho. A direcção e os jogadores poderão dizer se bem ou não, só que uma subida quer sempre dizer alguma coisa. Mas, de facto, eu gostava de continuar.

P – Se ficar, vai haver muitas mudanças no plantel?

R – O Fornos tem de fazer algumas aquisições para ficar na IIIª Divisão. Contudo, a maior parte dos jogadores deste plantel só não fica se não quiser ou se tiver convites melhores.

P – Ainda é um treinador jovem. Até onde pensa poder chegar?

R – A minha ambição a nível distrital foi conseguida, que era treinar o Fornos, actualmente a equipa mais representativa do distrito. A outro nível temos sempre ambição, mas infelizmente por cá não dá para muito mais.

P – Se estivesse então noutra região do país acredita que poderia chegar mais longe?

R – Acredito, porque confio muito em mim e sei o que posso fazer. Noutro distrito, com grande projecção futebolística e enquadrado nessa mesma projecção, era natural que tivesse outras ambições.

P – Chegar à Superliga?

R – Não é fácil chegar à Superliga. Há muitos factores que levam a que um treinador consiga lá chegar, não é só o valor pessoal ou a sua formação. É preciso muito mais, nomeadamente estar bem enquadrado no contexto futebolístico e ter um empresário que consiga ter grande aceitação pelos clubes.

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