Ângelo Correia, ministro da Administração Interna nos anos 80 e conhecido empresário, costumava dizer que «estamos sempre a ser surpreendidos por coisas que já sabemos».
Com a “Visão Estratégica para a Região Centro”, colocada à discussão pública pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) até há dias, verificamos isso uma vez mais.
Apesar de a Guarda ter um tecido empresarial competitivo; apesar de ser na Guarda que confluem linhas ferroviárias e vias rodoviárias de relevância ibérica e europeia; apesar de ser na Guarda que houve um dos maiores aumentos de procura de estudantes do ensino superior em todo o país – o Instituto Politécnico da Guarda soube este domingo que tem mais 40% de vagas ocupadas do que em 2019, apesar de nesse ano ter recebido em todas as fases mais de mil novos alunos; apesar de tudo isto, a visão estratégica de quem coordena a região Centro secundariza sempre, e marginaliza, a Guarda e a sua região.
É, como diz Ângelo Correia: já sabemos que, em Coimbra ou em Lisboa, os poderes central e regional é assim que olham para a Guarda; mas não deixa de ser surpreendente – hoje como sempre – a forma como ignoram a dinâmica e o potencial social, económico e de inovação desta cidade e da sua zona de influência.
A causa disto, como já disse noutras ocasiões, reside na necessidade dos protagonistas da Guarda ganharem peso político nacional, seja qual for a sua área de atuação – empresarial, social, nas áreas da inovação e do conhecimento e, naturalmente, no poder autárquico. Todos temos de nos focar em estruturar melhor as nossas reivindicações e ambições e em dar-lhes visibilidade. Este é um desafio tanto coletivo como individual, uma vez que envolve as lideranças das organizações.
Para esta nova fase que devemos construir proponho duas causas relacionadas com a visão estratégica para a década 2020-2030.
Primeira: trazer para a Guarda a futura unidade aeroportuária do Interior Norte transformando-a numa infraestrutura intermodal, uma vez que é neste território que se articula a Linha da Beira Alta, que liga à Europa Central, a A23 e a A25.
Segunda: integrar o Instituto Politécnico da Guarda (IPG), tal como o Hospital Sousa Martins, classificado como “hospital de ensino universitário”, nos investimentos estratégicos de inovação e de produção de conhecimento na região, em articulação com a Universidade da Beira Interior.
Estas e outras coisas fazem todo o sentido. E, por isso, serão viáveis caso se ganhe o peso político que, hoje, tanta falta nos faz.
* Dirigente sindical