«A Casa da Música está para o Porto como o TMG está para a Guarda», comenta uma guardense para outra amiga após vistoriar «todos os pormenores» da nova infraestrutura cultural. A dupla fez parte dos curiosos, mas não muitos, que aproveitaram a tarde solarenga do feriado de segunda-feira para conhecer de perto o Teatro Municipal da Guarda. À mesma hora, a animação de rua com o Argoteatro, pelo grupo Artelier?, desfilava pelas ruas da cidade até ao novo espaço cultural. Arrastaram consigo universos, formas geométricas, pirâmides, como tanques que largam flores, e formas onde deslizavam os corpos. Só não conseguiram arrastar pessoas.
Pelo labirinto de pedras, escadas ou pela rampa, todos os caminhos vão lá dar. «Mãe, quando é que vamos à casa dos espectáculos?», gritava uma criança. «Já cá estamos, não vês!», respondeu a mãe apontando para o edifício quadrado. «Então vamos pelo labirinto!», exigiu a miúda, ainda pouco convencida de que aquilo seria o tão falado TMG. A curiosidade e a expectativa transbordavam nos olhos daqueles que por ali passaram, reservados e de poucas palavras, mas percebia-se que todos ansiavam pela abertura oficial da nova sala de espectáculos, pois tudo era visto ao pormenor. Primeiro, o exterior espelhado e cúbico, «arrojado», diziam alguns de cravo vermelho ao peito, enquanto tentavam perceber se gostavam ou não da opção arquitectónica. Seguiam-se depois uns aos outros, numa fila desordenada, pelas passadeiras de pedra na tentativa de entrar nos edifícios para ver de perto. Mas não era fácil. Como as portas são grandes e escuras, quase que se confundiam com o edifício. Como a bilheteira do grande auditório era a única porta aberta, toda a gente lá ia perguntar.
Mas ali a azáfama era intensa para os últimos preparativos do primeiro espectáculo (de José Mário Branco), cujos primeiros acordes já se faziam ouvir. Entretanto, alguns funcionários corriam de lés-a-lés e cruzavam-se ainda com alguns trabalhadores atarefados nos retoques finais ao TMG. Menos buliçosos, os visitantes aproveitaram para ver o pequeno auditório, descobrir a exposição de pintura e escultura de Maria Oliveira e beber algo no café-concerto. «Acho que é um equipamento com uma dimensão e um impacto a nível regional», concorda Ricardo Campos, licenciado em arquitectura paisagística, enquanto dá mais uma vista de olhos. O jovem não ficou indiferente à imponência do edifício, em contraste com o concerto de José Mário Branco: «Vou ver por mera curiosidade», justifica. Apesar de ainda não conhecer a programação do TMG, garante que vai assistir a mais espectáculos, «desde que sejam ao fim-de-semana, por causa do trabalho», adianta. Já o seu primo, Hugo Moreira, não hesitou em tecer algumas críticas. «Acho que devia ser apenas um único edifício. Como o Inverno costuma ser rigoroso, não faz muito sentido dois blocos sem ligação entre eles», nota, lamentando igualmente a falta de espaços verdes na envolvente do TMG. Contudo, são dois pormenores que desvirtuam em nada o complexo: «Esta era uma infraestrutura urgente para a Guarda», conclui. Quanto à programação, o jovem ainda não sabe qual o próximo espectáculo a que vai assistir, mas tem a certeza que «haverá muitas actividades para desfrutar no novo espaço cultural».
Patrícia Correia