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Investimento privado precisa-se

Parceiros Beira Interior Norte/Salamanca no Interreg receiam “elefantes brancos”

A Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo promoveu no último sábado, em pleno rio Douro, mais uma reunião de trabalho da iniciativa comunitária Interreg III A. A bordo de uma embarcação turística, chefes de fila, parceiros e técnicos, portugueses e espanhóis, trocaram informações, experiências e analisaram a evolução dos diferentes projectos, ao som da música das concertinas que animaram todo o passeio. A iniciativa também serviu para mostrar novas alternativas de investimento e desenvolvimento do turismo aos empresários da região.

A começar pelas potencialidades de Barca d’Alva como cais de partida para a navegabilidade do Douro, tendo em conta a sua localização fronteiriça, a proximidade a Salamanca, à fronteira de Vilar Formoso e à Serra da Estrela. Esta via navegável, entre o Atlântico e os molhes fluviais raianos de Barca d’Alva e Vega Terrón, numa extensão de 210 quilómetros, permite a navegação de navios até 83 metros de comprimento. O que num ano pode garantir um fluxo de cerca de 250 mil turistas ou visitantes, com potencialidades para crescer de modo sustentável, são pelo menos essas as contas do vice-presidente da Câmara de Figueira Castelo Rodrigo, António Edmundo. «Salamanca recebe um milhão de turistas por ano, nós, com dez por cento desse turismo na nossa região em 2006, já ficávamos muito contentes», garante. Até lá, a reunião técnica de acompanhamento dos projectos do Interreg referentes à primeira e segunda convocatórias serviu para trocar experiências práticas para «remover algumas barreiras técnicas ou burocráticas», adiantou no final António Edmundo.

«A seguir ao Orçamento de Estado, o Interreg é a segunda fonte de financiamento para alguns municípios, caso de Figueira de Castelo Rodrigo», salienta, destacando a importância deste programa comunitário no amenizar dos problemas do interior. «Sem ele, este quadro desolador de baixa densidade populacional, envelhecimento ou pouco investimento privado, teria sido muito pior», assegura o edil. A promoção turística, a recuperação dos centros históricos ou as acessibilidades são alguns dos projectos apoiados pelo Interreg, «o que aproximou duas regiões que estavam de costas voltadas», constata. E António Edmundo exemplifica com a rede complementar de estradas que permite que as comunidades dos dois lados da fronteira comprem ou vendam produtos entre si ou até estudem no país vizinho. Tudo porque o Interreg proporcionou uma melhoria das acessibilidades ao longo de 120 quilómetros na zona fronteiriça.

«Com estes projectos começámos a entender esta região como um todo», sublinha António Edmundo. Uma opinião partilhada por Avelino Vasquez, vice-presidente da Diputación de Salamanca, pois «antes havia duas regiões, agora só há uma com problemas idênticos». Do outro lado da fronteira há zonas, como Bejar ou Salamanca, onde há muito turismo, mas ali, ao contrário dos portugueses, «os empresários investem», garante Avelino Vasquez. Há depois as potencialidades turísticas do rio Douro. Mas falta oferta hoteleira e de restauração na região. Para o autarca figueirense, o que tem falhado é a ausência de investimento empresarial local e um projecto-âncora, como a reactivação para fins turísticos da ferrovia entre Pocinho e Barca d’Alva com o aproveitamento da estação ferroviária desta localidade. «Nós estamos disponíveis para colocar um comboio-hotel», desafia António Edmundo. Mesmo assim continua a faltar o investimento privado. É aqui que o programa comunitário falha, pois «não financia privados», explica Jorge Brandão, técnico da Comissão do Interreg, realçando que compete às entidades públicas criar as condições estruturais. «Mas claro que há sempre o risco de se criarem “elefantes brancos”, coisas que depois não têm utilização», avisa o técnico.

Patrícia Correia

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