No início de junho, a SIC emitiu uma longa reportagem sobre o Hospital Sousa Martins, na Guarda, muito crítica sobre o seu funcionamento.
Perante isto, o que fazer? A resposta não é fácil, pela dimensão e pela importância estratégica do problema. O hospital da Guarda é de longe a maior empresa do distrito e o setor da saúde o que maior impacto económico tem: dizer isto é aludir à pequena dimensão do tecido empresarial regional e, também, ter consciência que a atividade de saúde pública, por produzir poucos bens e serviços transacionáveis, vive do Orçamento do Estado. As coisas são o que são.
Apesar disso, os grandes hospitais públicos são geradores de muita atividade económica e de desenvolvimento. E os cidadãos do interior têm exatamente o mesmo direito à qualidade da saúde pública que os moradores de Lisboa, do Porto ou de Coimbra. Ou seja, para usar bem o dinheiro dos impostos que lhe é entregue, um hospital como o Sousa Martins precisa de ser bem gerido internamente. E, também, de otimizar os seus recursos numa ótica regional, articulando-se com hospitais próximos de dimensão equivalente como os de Viseu e da Covilhã.
É aqui que começam as dificuldades. Quem é que escolhe uma boa equipa de gestão (com quadros realmente vocacionados para a gestão operacional, financeira e logística) para dirigir o hospital? E quem é que tem competência para promover otimizações regionais?
Dir-se-á que é o Governo. Mas a ministra da Saúde passa os dias embrulhada na luta contra a Covid-19, as pressões de sindicatos e ordens profissionais, as negociações salariais, as idas ao Ministério das Finanças, as conferências de imprensa, as reuniões com as Administrações Regionais de Saúde (ARS) que só lhe pedem dinheiro, os Conselhos de Ministros, os telefonemas do primeiro-ministro, etc. “Mutatis mutandis”, com os secretários de Estado é igual. A qualidade da gestão específica de um hospital como o da Guarda não lhes cabe nas 24 horas do dia.
Com a ARS do Centro é pior: são funcionários, não têm a soberania que só a eleição democrática dá. Não mandam, não têm autoridade para fazer reformas. E os presidentes das Câmaras, por mais esforçados que sejam, têm pouca (ou nenhuma) influência política quando a escala é regional.
Apesar de não simpatizar com a regionalização (por criar novos “terreiros do Paço”), devo admitir que este é um problema típico para uma entidade com legitimidade políticoadministrativa que fique entre o ministro e o presidente de Câmara. Portugal é o único país da União Europeia onde as regiões não existem. É caso para pensar.
* Dirigente sindical