A forma como o Centro Histórico da Guarda foi votado ao abandono e o estado moribundo da Praça Velha (Praça Luís de Camões) é um compêndio de como não se deve gerir uma cidade.
Raramente encontramos um centro histórico tão abandonado como o da Guarda, uma cidadela ímpar, com imensos argumentos para ter vida própria e ser uma referência turística. S. Vicente e a Praça Velha foram o coração da Guarda – em 2000, Maria do Carmo Borges e José Sócrates, então ministro do Ambiente, no contexto das comemorações do 801º aniversário da Guarda, sugeriram mesmo a candidatura de S. Vicente a Património Mundial da Unesco (ideia a que voltaria José Igreja em 2013, quando também sugeriu a candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura, que mais tarde viria a ser adotada pelo atual executivo). Por isso, a compra das casas adjacentes aos antigos Paços de Concelho (e que atualmente alberga a CIMBSE), que nos últimos anos tem envergonhado os guardenses pelo seu estado de abandono e onde a Câmara colocou umas lonas para esconder as casas em ruínas – a autarquia vai iniciar por estes dias, finalmente, as obras de consolidação das paredes e posteriormente deverão ser iniciadas obras de requalificação.
Em junho de 2013 sugeri aqui a aquisição pela Câmara das casas do quarteirão (entre a Praça e a Rua Sacadura Cabral; entre a Rua do Comércio e a da Torre, não necessariamente todo o quarteirão, mas algumas casas que permitissem a continuidade de um conjunto edificado a requalificar) e o desenvolvimento de um espaço comum de animação cultural e social, comercial e de lazer. Escrevi então, mais uma vez, que «é urgente encontrar opções que minimizem o impacto negativo que a pedonalização da Praça teve na vida dos lojistas da zona velha. Deixo uma sugestão, pouco relevante (e que alvitrei sem sucesso à APGUR e à ACG): impulsionar “a PRAÇA na PRAÇA” – isto é, levar de novo para a Praça Velha o mercado das frutas e dos legumes, do artesanato e das coisas da terra, das pessoas da aldeia a venderem às pessoas da cidade, como ocorreu até ao final do séc. XIX» (https://ointerior.pt/arquivo/a-praca-na-praca/). Nas edições seguintes, e porque vivíamos em época pré-eleitoral, lançámos o repto aos candidatos à autarquia https://ointerior.pt/arquivo/procura-se-nova-vida-para-a-praca-velha/. Sugerimos a aquisição de casas para fazer um quarteirão de mercado – pensando no Mercado da Ribeira, no de Campo de Ourique, no Bolhão e em tantos outros espaços de revitalização de praças tradicionais, com animação cultural, esplanadas, restaurantes, bares… Ficou o desafio, desconsiderado, de como se poderia combinar a recuperação de património histórico com revitalização da Praça e de como se poderia inserir naquelas casas um mercado com vida e moderno.
“A Praça na Praça” não ganhou asas porque a falta de ambição e visão dos nossos políticos tem sido quase sempre castradora das utopias e vontades dos guardenses. Apesar de em 2013 a candidatura de Álvaro Amaro ter ostracizado a nossa sugestão, agrada-nos ver que com a aquisição e lançamento do projeto de requalificação das casas na Praça Velha está em andamento. Mais, que a sugestão que há sete anos apresentámos, e foi ridicularizada por alguns, estava muito próxima daquilo que a Câmara da Guarda quer implementar e que designou de “Solar dos Sabores” – não sei onde está o “solar”, mas imagino os sabores… – uma “praça”, no interior do edificado, com espaços lúdicos, sociais e comerciais. E um centro de interpretação da cultura judaica. Pena que tenham tardado tantos anos. E que ainda esteja tão atrasado. Mas esta é a primeira grande opção para a revitalização da Praça Velha. A outra é a requalificação do Centro Histórico da Guarda com a recuperação de casas e a promoção de residências artísticas e de estudantes. As boas ideias brotam e ficam, mesmo quando são desdenhadas e parecem esquecidas…
A Praça dos Sabores
Raramente encontramos um centro histórico tão abandonado como o da Guarda, uma cidadela ímpar, com imensos argumentos para ter vida própria e ser uma referência turística.