Apenas uma pequena notícia neste jornal deu conta da abertura de um novo hotel no Fundão. Incrível, mas verdadeiro. Numa cidade onde apenas existem três hotéis, a abertura de uma nova unidade hoteleira não mereceu mais nenhuma referência na imprensa local. Bem sei que não houve qualquer inauguração oficial, mas não me parece que empadas e bolinhos de bacalhau sejam imprescindíveis para que a abertura de um hotel seja notícia.
Em compensação, nas últimas semanas as polémicas têm conseguido um destaque inusitado, com os jornais a dedicarem várias páginas aos conflitos entre alguns hoteleiros da região. Apesar desta visibilidade repentina, as escaramuças neste sector não são novidade.
Diz-se que, um ano após a inauguração do Museu do Pão, muitos hoteleiros de Seia ainda não o tinham visitado, havendo mesmo quem fizesse comentários pejorativos, enquanto enchia a sua unidade com os turistas chegados a Seia para visitarem o Museu.
No passado recente, um empresário de hotelaria terá enviado uma carta a um ministro, chamando a atenção para os prejuízos que a abertura da Pousada da Serra da Estrela (antigo Sanatório) poderia causar à hotelaria da região.
O último episódio da novela em que o sector se transformou foi o rol de críticas ao monopólio da Turistrela.
É verdade que a qualidade da oferta hoteleira desta empresa tem muito para melhorar. É verdade que o Centro Comercial da Torre é uma vergonha. É verdade que não há uma oferta de actividades capaz de atrair turistas fora da época da neve. Mas não é menos verdade que, antes da actual administração iniciar o mandato, a situação era muito pior. A serra resumia-se a dois hotéis decrépitos e a uma pista de esqui sem condições. Onde estavam os que agora exigem o fim do monopólio na serra, quando as estruturas apodreciam e exigiam investimentos?
Apesar da polémica ter crescido nas últimas semanas, considero que tudo se baseia na ideia errada de que a promoção de actividades de montanha implica ser proprietário de um hotel na serra. Ao que sei, nenhum evento deixou de se realizar devido ao veto da Turistrela. Por isso, considero que algumas das acusações que li nos jornais são apenas uma forma de justificar a incapacidade para dinamizar actividades próprias.
Mais do que unidades hoteleiras, a região precisa de estruturas e eventos capazes de atrair turistas fora da época do esqui e isso não depende da Turistrela, mas da iniciativa de quem tem interesses no sector.
As energias gastas em guerras de paróquia deviam ser aplicadas na procura de soluções para o turismo da região. A ampliação do aeródromo e o desenvolvimento de acções conjuntas que promovam os bons investimentos privados realizados na região – como as novas pistas de esqui, o Skiparque ou o Campo de Golfe da Bica – são exemplos de acções que deveriam unir os empresários da região. Mas enquanto alguns continuarem a fechar-se no seu pequeno mundo, o turismo da região não irá muito longe.
Por: João Canavilhas