Percurso interessante têm os paladares e as garrafas deste mundo. Na minha adolescência mais feroz houve alturas em que nos debatíamos com a curiosidade dos rótulos. Queríamos provar novas sensações, queimar experiências e crescer muito depressa. Lembro sabores exóticos e alguns raiando o incompreensível, mas eram diferentes. Salsaparilla vinha em garrafas de rótulo acastanhado e soava a México e sabia quase a anis. Havia também a Peppermint e a “amêndoa amarga” e a “tia Maria”. Ainda provei o absinto e fui discoteca dentro pisando pessoas que me apetecia provocar. Mas não aconteceu nada além deste paladar na memória, como se imagens da língua se armazenassem. É fascinante como tantas destas coisas vão caindo em desuso e quase já não se vêem. Descobri umas garrafas, acastanhadas dos anos, com rótulos hoje impossíveis no café onde vou. Eram salsaparilla e peppermint. Fui à net ver delas e já não chegaram ali. As velhas relíquias jazem na prateleira e as suas empresas possivelmente no cemitério da Ajuda. Lembrei-me dos amigos desses dias e ri-me sozinho. Ao espelho está um tipo sem cabelo a sorrir de si, com 44 anos. Sobrevivi às garrafas de salsaparilla e percebo que o tempo tudo consome e não passa por mim.
Por: Diogo Cabrita