A morte está para os filmes de Ingmar Bergman, como Robert De Niro ou Leonardo Di Caprio estão para os filmes de Martin Scorsese. Presença constante. Personificação de obsessões repetidamente retratadas.
Há quase dois meses que Saraband, o último filme de Bergman, se encontra em exibição em Lisboa. Uma das poucas cidades, em todo o mundo, a ter o privilégio de poder assistir ao regresso, vinte anos depois, do mestre sueco, muito por culpa das suas exigências em que este seja mostrado exclusivamente na sua projecção digital, já que Bergman não terá gostado da sua transferência para película. E que Bergman é este, que esgota sessões como se de um blockbuster americano se tratasse? É o mesmo Bergman de sempre. Que na realidade nunca foi um apenas. A teatralidade continua, ficando as aproximações feitas por grandes planos com o quase exclusivo do aspecto realmente cinematográfico da questão. Sem conseguir esquecer a composição extremamente cuidada de cada plano, onde a ideia original de pintura nos consegue ainda ser mais recorrente que as aproximações ao cinema.
As relações humanas, com a dor habitual a que Bergman sempre nos habituou, surgem aqui ainda mais depuradas e sem qualquer sinal de esperança. A morte, conclusão de tudo, e para tudo, está mais próxima. Já não resta tempo para contemplações. Os erros do passado são agora expiados. Perante nós, em carne viva, quatro personagens que apenas procuram uma paz impossível de atingir. Doloroso de ver!
E de novo a morte, em Mar Adentro, de Alejandro Amenabar. Baseado num facto real, que abalou a Espanha em tempos recentes, Amenabar assina o filme mais lamechas da temporada. Pode a lamechice ser algo de positivo? Em Mar Adentro é.
Se nos deixarmos vencer pela racionalidade, numa análise cirúrgica ao filme, então Mar Adentro será um pesadelo, com Amenabar a puxar pelas lágrimas do espectador recorrendo a todos os artifícios a que consegui chegar. A história real de Ramon Sampedro (no papel de uma vida de Javier Bardem), paralisado durante mais de vinte anos numa cama, após um mergulho mal calculado, serve também para a marcação de uma posição politica. Existe aqui pouco espaço para outras visões distintas acerca da eutanásia. Ou, dito de outra forma, as outras visões e opiniões estão lá, mas acabando sempre por roçar o ridículo, ou ficando num patamar de quem não sabe o que diz.
Há uma poesia em Mar Adentro que nos aproxima mais da vida. A vida que Ramon não consegue viver, mas para a qual jamais olha com azedume. E em toda esta história, é ele, aquele que quer morrer, que mais a parece amar. Preparem os lenços de papel!
O sexo aqui tão longe
Quando um filme onde o sexo é a temática principal, consegue ser monótono e do mais previsível que se consiga imaginar, algo de muito mau se passa. Em Relatório Kinsey é isso mesmo que acontece. Se os primeiros minutos até parecem indiciar uma agradável comédia, com os ingredientes certos de irreverência, condimentada por um assunto que promete manter aceso o nosso interesse até final do filme, a sensação que fica no final é termos assistido ao que se pode chamar, e recorrendo a uma metáfora alusiva ao tema estudado por Kinsey, uma ejaculação precoce. Chega a ser confrangedor assistir a tamanho desastre. Nem Laura Linney o salva. Uma desgraça para esquecer, onde a ligeireza é apenas sinónimo de desinteressante, ao contrário, por exemplo do que acontece com Sideways, comédia simpática e sem pretensiosismos que nos conquista facilmente com a sua ingenuidade.
Por: Hugo Sousa
cinecorta@hotmail.com