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A política da Carroça Vazia…

O mestre levou o seu discípulo para o campo e perguntou-lhe: o que estás a ouvir?

O discípulo respondeu: para além da natureza oiço ao longe o som de uma carroça…!

– Uma carroça vazia… – corrigiu o mestre. Como sabe? Interrogou-se o jovem.

– É simples. Uma carroça vazia faz sempre mais barulho. Quanto mais vazia, mais barulho!

Lembrei-me repetidamente desta história ao longo da última campanha eleitoral. Por todo o lado existia um barulho ensurdecedor. O ruído das coisas assessorias. O gritar das banalidades. O repetir do slogan fútil. A revolta parva do néscio. O brado do militante cego e surdo. O feed-back dos microfones. A carrinha que passa e passa, rua a cima, rua abaixo. A peixeira do mercado aos beijos ao candidato. A entrevista à mãe, à vizinha, ao gato. A vénia do jornalista corcovado. O discursos repetidos. Os cachecóis com as cores dos partidos. As bandeiras, as bifanas, as canções, as acusações, as lamentações, as provocações. Mais um comício. As cenas tristes na tv. A sandochas embrulhada no jornal que ninguém lê, com sondagens diferentes de outras sondagens. Enfim, o ensurdecedor barulho de uma carroça….vazia de ideias!

É nisto que se transformou a política portuguesa. Barulho para que ninguém se oiça e assim, se possa disfarçar a falta de ideias. Quantos debates regionais existiram entre Pina Moura e Ana Manso? Um? E entre Sarmento e Sócrates? Nenhum? Pois o melhor é mesmo andar a falar sozinhos sem contraditório. Pois explicar o fundamento de meia dúzia de ideias escritas à pressa num papel, pode ser um acto complicado. A carroça passa e o povo bate palmas.

…na maturidade de um povo!

Passadas três décadas do “25 de Abril”, quando nos dizem que estamos na maturidade democrática, chegamos à conclusão que somos uns adolescentes de paixões. Arranjamos um novo namorado, não por amor, mas para nos ajudar a livrar do anterior – que por sua, vez, nos tinha ajudado a afastar um outro. E onde ficam as verdadeiras paixões políticas?

Guterres entrou para esquecermos Cavaco. Durão entrou porque era o que estava na calha para esquecermos Guterres. Santana entrou porque era o que estava mais à mão de semear para remendar a saída de Durão. Sócrates vai entrar porque não há outra solução. Na conjuntura actual, é o regresso do histórico “rotativismo político”, já ninguém segue um projecto a médio ou longo prazo. Já ninguém tem paciência. Já ninguém faz sacrifícios. Estamos na sociedade de consumo imediato, em que esperamos resultados palpáveis num piscar de olhos. Estamos na política do “descartável”, da “chicotada psicológica”, em que se despede um primeiro-ministro como se despede um treinador que não nos deu alegrias nos jogos de domingo.

Mas também é verdade que os líderes mais recentes nunca nos deram garantias de médio ou longo prazo. Todos sentimos que a força regeneradora dos partidos é cada vez mais fraca. As pessoas afastam-se dos partidos e estes vivem maioritariamente do fluxo das juventudes partidárias e dos interesseiros que se distribuem ordenadamente por todos os partidos.

Por seu lado, a comunicação social está mais preocupada em ser contra-poder que em informar com rigor e isenção. Quem sabe ler as “entrelinhas” da informação identifica verdadeiras campanhas tendo em vista influenciar a opinião pública. Como disse em tempos Emídio Rangel, hoje pode vender-se um Presidente da Republica (e um político em geral) como quem vende um sabonete!

É triste concluir, que na “maturidade política” andamos a comprar políticos em promoção com prazo de validades quase e esgotar-se! Mas amanhã…há novos catálogos!

Por: João Morgado

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