Estamos a viver um tempo de incerteza, angústia e de novas experiências, mas também de afirmação de valores solidários face a uma ameaça real, inquietante, mortífera.
Há algumas semanas atrás, enquanto a presença do Covid-19 não se manifestava ainda em território nacional, alguns meios de comunicação enveredaram por um lamentável histerismo e ânsia de registo de casos, em vez de optarem por uma atitude pedagógica que servisse de alerta para os previsíveis cenários, suscitasse uma análise atenta das medidas a implementar, reduzisse a propagação do alarmismo.
Essa exagerada obsessão conduziu, desde logo, a uma inflamação noticiosa, arrastada, consequentemente, para as redes sociais; nestas, cresceu, diariamente, o número de especialistas em coisa nenhuma, debitando alarvidade e protagonizando dúbios e inconfessáveis aproveitamentos de uma realidade que merece uma abordagem diferenciada, serena, adequada.
A sensatez, o rigor e o equilíbrio informativo são fundamentais nesta como noutras situações de instabilidade, ameaça e perigo em que a credibilidade e objetividade das notícias devem constituir uma permanente preocupação de quem está nos media com verdadeiro sentido ético, deontológico e profissional.
Atitude que estabeleça uma fronteira precisa das falsas notícias veiculadas pelas redes sociais onde se ampliam a mesquinhez, a má formação, os ódios, a insolência, a preocupante falta de formação moral e cultural de muitas pessoas, tantas vezes escondidas atrás de um perfil falso; claro que há igualmente (e até em maior percentagem) posturas corretas, indicações insuspeitas, exemplos louváveis, iniciativas oportunas às quais, perante a quantidade de informação e comentários nem sempre é dada a atenção devida.
Neste contexto de proliferação de falsas notícias é fundamental que os tradicionais meios de comunicação sublinhem a sua importância social e assumam, também nessas plataformas digitais, o seu papel de forma que o público os veja como referência informativa, credível.
É justo referir que no contexto local e regional tem existido essa preocupação, reconhecida pelo público mais atento aos textos produzidos. Contudo, as “fake news”, não sendo um fenómeno novo, nunca assumiram, como hoje, um contágio tão devastador que atinge mesmos os grandes e conceituados meios de comunicação; a natural tendência em dar em “primeira mão” uma notícia, antecipando-se à sua concorrência mais direta, leva à difusão de informação errónea…
Não é por acaso que tem vindo a aumentar por parte de instituições de ensino a preocupação em desenvolverem iniciativas destinadas a um melhor conhecimento dos mecanismos de informação e desinformação nas plataformas digitais, assim como a permitirem o uso de aplicações que viabilizam a validação da informação e descodificação das notícias falsas.
Assim, em situações como a que estamos a atravessar, com consequências ainda imprevisíveis, os media tradicionais lidam com dificuldades e responsabilidades acrescidas, tanto mais quanto por parte das estruturas/ entidades nacionais nem sempre a gestão da comunicação tem sido a melhor, de forma a facilitar a recolha de dados precisos.
Sendo certo que a atual pandemia deve ser objeto de fundamentada preocupação, e suscitar as medidas e cuidados que exige, o alarmismo social deverá ser evitado. A comunicação social, neste caso vertente a imprensa, tem um papel importante a desempenhar, servindo esta experiência para se reformularem procedimentos e estratégias.