Já algumas vezes me referi aos galinheiros e quintais privativos que proliferam por esta terrinha de faz-de-conta a que convencionamos chamar Portugal.
Serve esta croniqueta para ilustrar mais uma situação que confirma a tese de que a China, ao inventar aquela coisa de Um Regime – Dois Sistemas, mais não fez do que copiar um modelo português, bem mais antigo e com provas dadas: Um País – Muitos Feudos.
A historieta passa-se numa terriola sem nome onde um fulano tem um casa que quer inscrever na Conservatória. A repartição de Finanças da residência do desgraçado – noutra terriola diferente – passa uma certidão a jurar pelas alminhas que o prédio foi apresentado para cadastro e que está inscrito para pagar o Imposto Municipal sobre Imóveis. Só que esse imposto é cobrado pelos Serviços Centrais, lá na Capital do Império. Portanto, na Certidão é dito que esse imposto ainda não está liquidado.
Pois é: a Senhora Conservadora, do alto da sua magnífica autoridade, não aceita a certidão. Tem de dizer ali, preto no branco, que o imposto não está liquidado por indisponibilidade de meios informáticos ou então não dá entrada. A certidão volta por três vezes ao local de origem onde os funcionários, primeiro perplexos com a história, depois divertidos, e por fim absolutamente perdidos de riso, lá acabaram por fazer o jeito e escrever na certidão que o imposto não está liquidado por indisponibilidade de meios informáticos. O que acaba por ser um bocado paradoxal: uma certidão, em princípio e até pelo próprio nome que ostenta, certifica uma verdade. Aquela certidão, certificando uma Inverdade, atribui-lhe o estatuto de Verdade-Verdadinha.
Cá está: Um País – Uma Lei – Muitos Feudos.
Mas pronto, desde que a Senhora Conservadora fique feliz e com isso faça o cidadão feliz, é o que interessa. É esse o objectivo supremo da Humanidade: encontrar a felicidade. Mesmo que tenham de se enfiar umas mentirinhas para acelerar o processo.
Está claro que não digo o nome da terriola em questão, pois a senhora conservadora podia ler este artigo e descobrir mais algum erro que fizesse a minha certidão voltar para trás. E já estou farto de pedir jeitinhos aos funcionários lá da repartição. São simpáticos e prestáveis, sim senhor, mas a paciência esgota-se.
Por: Jorge Bacelar