Arquivo

Exclusão de Partes

Poucos serão aqueles, dos milhões que em Portugal descrêem dos partidos, que vão gostar do resultado das próximas eleições. Seja ele qual for. Há a essencial e urgente operação de higiene e segurança, consistente em garantir que Santana Lopes vai deixar de ser primeiro-ministro, eliminando no passo o risco de ele voltar a ocupar o cargo nos tempos mais próximos. Isto está certo, mas faltam soluções claras para os verdadeiros problemas e temos para já, sobre eles, duas certezas: o actual governo não tem capacidade para os resolver; vamos ter de arriscar no desconhecido como única esperança para encontrar uma solução. É como se, em fuga num pesadelo, chegássemos a uma parede com duas portas. Por detrás da primeira sabemos que está a nossa perdição; ignoramos o que vai aparecer quando abrirmos a segunda. Arriscamos na única possibilidade ou partimos para a morte certa?

A segunda questão, resolvida a primeira, consiste em decidir se vai ou não haver uma maioria absoluta. Muitos portugueses sentem que o próximo governo, seja ele qual for, vai ser mau. Como, então, aceitar que o próximo governo, inevitavelmente mau, nos governe previsivelmente mal durante quatro anos? Para além da objecção óbvia a este argumento, e que consiste em apontar que havendo necessidade de mudança o sucessor beneficia ao menos do benefício da dúvida, temos que o nosso sistema político tem um sistema de segurança para situações destas: se o próximo governo for mau, mesmo que tendo maioria absoluta temos o Presidente da República para nos proteger dos seus abusos. Não é para isso que verdadeiramente o elegemos?

Não vamos então ter medo. Há que encontrar o cartão de eleitor perdido no meio do musgo, eleger um governo e responsabilizá-lo, não pelo cumprimento das suas promessas, mas pela resolução dos problemas do país.

Estes problemas pouco têm a ver com o que foi discutido na campanha eleitoral. Discutiram-se “questões civilizacionais”. Discutiram-se boatos. Falou-se na “pesada herança do passado”. Trocaram-se acusações. Insistiram todos em demonstrar que nenhum presta. E por pouco conseguiam convencer-nos a todos. Por mim, continuo a acreditar que mais vale abrir uma porta para o escuro do que aquela que esconde um monstro.

Por: António Ferreira

Sobre o autor

Leave a Reply