«Isto está muito complicado. Tenho 72 anos e não me recordo de uma situação destas na região da Guarda. E toda a vida estive ligado à agricultura», garante António Louro, presidente da Acriguarda. A grave seca que nos últimos meses tem afectado o país está a deixar os agricultores e criadores de animais do distrito da Guarda com os “nervos em franja”. Aliada ao gelo, a falta de chuva impede o crescimento dos pastos, havendo já animais a morrer, enquanto os produtores reclamam a ajuda do Governo.
Um repto que poderá ter sucesso, não se sabe é quando, já que o secretário de Estado da Agricultura esteve na última semana na Guarda e deixou a “porta aberta” à concessão de «eventuais apoios», prometendo vir brevemente ao distrito para constatar a gravidade da situação.
Esta é já considerada a pior seca dos últimos anos a afectar o país, sendo que o mês de Janeiro foi mesmo o mais seco do último século. O problema é que as perspectivas continuam bem “negras”, havendo previsões de que a seca vá perdurar até ao final do mês de Abril, embora fraca a moderada. Está prevista a aparição da chuva durante estes três meses, mas em quantidade inferior à usual para a época. Deste modo, para além do problema da falta de alimentação para os animais, a falta de água também se reflecte na baixa humidade do solo, daí que as culturas já comecem a ficar ameaçadas. Perante esta conjuntura, as várias associações de criadores de ruminantes do distrito estão bastantes preocupadas. António Louro, da Acriguarda, garante que as forragens estão «totalmente esgotadas» e que há gado a morrer, enquanto os agricultores estão «endividados na compra de forragens». Perante este cenário desolador, o presidente da Acriguarda alerta que são precisas medidas para «ajudar de imediato os agricultores em maus lençóis».
Mas como “um mal nunca vem só”, também o preço dos fardos de palha subiram quase o dobro nas últimas semanas, situando-se agora nos três euros, o que é «incomportável», garante. O mesmo reparo é feito por Francisco Loureiro, presidente da Acrialmeida: «Há falta de forragens para os animais e quem tem fardos de palha para vender está a fazer especulação», denuncia. «A seca está terrível. Não há pastos, nem dinheiro para comprar novas forragens e já há animais a morrer», reforça. Igualmente preocupado está José Freire, presidente da Acrisabugal, para quem a actual situação distrital é «grave» devido à falta de chuva e, consequentemente, de pastagens: «É mesmo impossível que os animais sobrevivam só à base das pastagens. Tem que ser com forragens ou com rações e isso torna-se muito dispendioso», refere.
Terras sem humidade para plantas germinarem
Depois da reunião realizada no Governo Civil da Guarda com o secretário de Estado da Agricultura, os presidentes destas três associações estão confiantes de que os agricultores do distrito vão ser apoiados pelo Estado, até porque «não podemos deixar morrer os nossos animais», realça José Freire. A estes lamentos junta-se António Machado, presidente da Associação Distrital dos Agricultores da Guarda (ADAG), que já diz que as próximas sementeiras estão «em perigo», uma vez que «as terras não têm humidade para as plantas germinarem». Considera mesmo que a agricultura portuguesa «bateu no fundo» e que a produção do queijo da Serra também «está em perigo». Para o futuro, deixa um vaticínio nada animador: «Se a chuva não vier até à Primavera, vamos ter um ano miserável», acredita.
Depois da reunião com várias associações do distrito, o secretário de Estado da Agricultura adiantou que virá em breve à região para «constatar “in loco” as necessidades» com que se debatem os produtores da Guarda. Necessidades que «já estão a ser levantadas para se fazer o enquadramento dos apoios às necessidades alimentares dos animais, bem como de eventuais ajudas à concretização de pequenos regadios individuais para que ciclicamente este problema deixe de existir», explica David Geraldes. Entretanto, o desespero com a falta de água é tanto, que já foram realizadas procissões em Famalicão e Vale de Estrela (Guarda) para apelar à intervenção divina.
Ricardo Cordeiro