A Asta – Associação de Teatro e Outras Artes vai começar a desenvolver a partir do próximo mês os ensaios do “Teatro Virtual”, desenvolvido “on-line” com a colaboração de 134 cibernautas oriundos de várias partes do globo. Para além dos portugueses, embarcaram neste desafio participantes de Espanha, França, EUA, Brasil, México e Marrocos.
O resultado das 10.870 mensagens trocadas “on-line” até ao passado dia 10 de Dezembro – onde se discutiram temas como “(Teatro) Virtual”, “Textos e Linguagens”, “Internet como Televisão”, “Se não houvesse telemóveis”, “Humanismo das Tecnologias”, “Arte na Televisão”, “Novas Gerações” e “Futuros” – deverá ser apresentado «em finais de Abril ou no início de Maio» com actores reais, revela António Abernú, presidente da Asta. «Estamos extremamente contentes com a grande participação das pessoas neste projecto inovador e inédito em Portugal e com muita vontade de passar para os ensaios», confessa o responsável, ainda um pouco surpreendido com a evolução verificada. «Há mais personagens e situações do que as que estávamos à espera», admite, pelo que, para além do núcleo de quatro ou cinco actores que se desdobrarão em inúmeras personagens, haverá ainda a participação de mais actores na peça virtual. O texto é uma «filtragem das ideias trocadas» no ciberespaço ao longo das oito semanas da primeira fase do projecto e pretende ser acima de tudo «uma sensibilização para o teatro e para a forma como as novas tecnologias estão a afectar as nossas vidas», salienta António Abernú.
Contudo, «o texto não é uma crítica às novas tecnologias. A tecnologia não é má. Quem está por trás dela, o Homem, é que a pode tornar má», sublinha. A peça começa com uma imagem que mostra uma pessoa a abrir uma carta, em que lê um texto visível para o espectador: “Corrige-te a ti mesmo antes de quereres corrigir os outros” (August Strindberg). É a partir desta mensagem que a peça se desenrolará com o objectivo de alertar o espectador para a manipulação tecnológica, despertando ao mesmo tempo para sentimentos como o amor, a amizade, a solidariedade ou para a essência do próprio teatro. Até lá, de 3 a 14 de Janeiro, estará aberto o concurso para a apresentação de propostas de cenários, enquanto de 17 a 26 poderão ser enviadas as propostas para os figurinos. Para tal, basta aos interessados visitar o site www.teatrovirtual.net, ler o texto no menu “Diário”, onde estão os esboços da discussão dos oito temas e o texto final, deixar a criatividade falar e enviarem as suas propostas por e-mail. Entretanto será criada uma sala de conversação para que os 134 cibernautas seleccionados possam ainda «discutir e opinar» sobre a montagem do filme multimédia. Dessa forma, o processo de criação será ainda mais interactivo e democrático.
O filme será disponibilizado depois na Internet, havendo ainda a possibilidade de ser representado numa sala de teatro convencional. O projecto envolve um investimento superior a 70 mil euros e é apoiado em 60 por cento pelo Programa Operacional da Cultura (POC), contando ainda com o apoio da Universidade da Beira Interior, a delegação do Inatel da Covilhã, do Cybercentro e da Assec (responsável pelo suporte tecnológico do projecto), para além de outras pequenas e médias empresas da região.
Liliana Correia