A exigência foi feita na sessão solene dos 820 anos da cidade, num discurso pragmático em que Carlos Chaves Monteiro considerou que estes compromissos demonstram, «no plano das intenções, um processo de desconcentração da administração pública determinante para o desenvolvimento» da Guarda. Em dia de aniversário, o edil guardense reclamou também o estatuto de Centro Hospitalar Universitário para a Unidade Local de Saúde porque «a saúde é um eixo prioritário» para a cidade. E garantiu que a «sólida e estável» situação financeira do município permitem assumir novos projetos em 2020, caso do Centro de Exposições, do Centro de Valorização dos Recursos Endógenos, da terceira fase da plataforma logística e dos Passadiços do Mondego – obra simbolicamente iniciada nesta quarta-feira.
«São projetos fundamentais para o desenvolvimento da Guarda e para sua a afirmação regional e nacional», disse, acrescentando as “alavancas» da classificação da região como Geopark Mundial da UNESCO e a candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura em 2027. Contudo, no caso dos passadiços, o autarca pediu o empenho da ministra da Coesão Territorial para que o empreendimento obtenha financiamento comunitário e se evite que «onere pesadamente» as contas da autarquia. «Será um bom contributo da senhora ministra», acrescentou Carlos Chaves Monteiro, que deixou ainda um elogio aos empresários do concelho sublinhando que são «os nossos principais aliados e o motor da região».
Mais emotivo foi o discurso de Ana Abrunhosa, que recordou ter vindo da Mêda para a Guarda «sozinha, aos 15 anos, para estudar». «Estudei no liceu, foi a melhor escola que me preparou para a vida», disse a governante, reconhecendo que «a Guarda marca quem não é de cá e quem por cá passa». A confissão valeu-lhe uma calorosa salva de palmas, com a ministra a prosseguir prometendo «nunca esquecer de onde venho e de trabalhar com realismo e empenho». Contudo, avisou que precisa «da ajuda de todos para contrariar a tendência de litoralização do país, que nem sequer é inteligente, mas está nas cabeças dos governantes». Ana Abrunhosa disse não acreditar que se consiga alterar esta realidade «só com a redução de portagens e de impostos para os residentes». Na sua opinião, «enquanto não mudarmos os critérios tradicionais de criação de serviços, que têm em conta principalmente a população, os territórios do interior sairão sempre a perder. Essa é a primeira grande mudança que temos que fazer sob pena de termos um país abandonado. Lembremo-nos dos incêndios, apenas».
Na sua intervenção, Ana Abrunhosa afirmou igualmente que o Governo tem um Ministério para a Coesão Territorial «para garantir que o interior está próximo, tem uma voz e será ouvido». Coube a Cidália Valbom a intervenção política da sessão. A presidente da Assembleia Municipal lembrou um artigo de opinião, publicado em setembro passado no jornal “Público” – em que a então presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) afirmava que era necessário «assumir que há partes do nosso território onde não vai ser possível recuperar população e atividade económica» e onde coesão territorial significará «gerir o declínio» – para desejar sucesso à agora ministra. «O seu sucesso será o sucesso da Guarda, que é o interior», disse. Cidália Valbom sugeriu também que o novo ministério para a Coesão Territorial aproveite o trabalho do Grupo de Missão pelo Interior, pois «está lá tudo», só falta deitar «mãos à obra». A presidente da Assembleia Municipal criticou «o desequilíbrio político e de representação» do interior, pedindo medidas para combater o despovoamento que «enfraquece a estrutura económica e retira representação política» a territórios como o distrito da Guarda.
Doze homenageados no Dia da Cidade
Nos 820 anos da Guarda a autarquia atribuiu medalhas de mérito municipal a 10 personalidades, a uma instituição e a uma empresa do concelho, e medalhas de excelências e dedicação a 16 funcionários do município.
Os homenageados foram o neurocientista Rui Costa, o diretor-geral das Artes Américo Rodrigues – que se fez representar pelo irmão por estar ausente do país em funções oficiais –, os professores universitários Valentin Cabero (Universidade de Salamanca) e Rui Jacinto (Universidade de Coimbra) – que também não esteve presente –, ambos membros da comissão executiva do Centro de Estudos Ibéricos, e Daniel Vendeiro, ex-presidente da Junta de Freguesia de Fernão Joanes e dinamizador do associativismo juvenil. Outros dos distinguidos foram Joaquim Venâncio, cesteiro de Famalicão da Serra; Armando Gil, antigo comandante dos bombeiros da Guarda e dirigente desportivo; João Casanova e Diogo Libânio, ambos médicos oncologistas; e Susana Xavier, pediatra e ex-delegada de saúde. A medalha de mérito municipal foi ainda atribuída à Casa do Bom Café, loja de comércio tradicional com mais de 100 anos de atividade, e ao Clube Escape Livre.