Ainda não é desta. A reactivação da linha férrea entre o Pocinho e Barca d’Alva está mais uma vez adiada já que o plano de investimento da Refer para 2005 não prevê as verbas necessárias para a reabilitação de um troço de 28 quilómetros, encerrado desde 1988. Contudo, o autarca de Figueira de Castelo Rodrigo, Armando Pinto Lopes, não se mostra surpreendido com a notícia, reclamando antes uma candidatura nacional ao IV Quadro Comunitário de Apoio (QCA).
Segundo o “Público”, o plano de investimento da Refer para 2005 prevê apenas seis milhões de euros para a Linha do Douro, entre Marco de Canaveses e o Pocinho (Vila Nova de Foz Côa), destinados, na sua grande maioria, à conservação da via e ao reforço de túneis e pontes. Um valor manifestamente insuficiente para a recuperação da linha entre o Pocinho e Barca d’Alva, estimada em 11 milhões de euros. Fonte oficial da Refer explicou àquele diário que o processo ainda não teve início porque tem de ser feita uma avaliação do investimento para que o Estado atribua à empresa a verba necessária, o que ainda não sucedeu. Este era um cenário já esperado pelo edil Armando Pinto Lopes, que ontem reuniu com a administração da Refer. «Não é um espanto para mim porque sabemos que a Refer não tem essas verbas. O que queremos, e aquilo por que andamos a lutar, é para que seja feita uma candidatura nacional ao IV QCA como um projecto-âncora para toda esta região, tal como são feitas para os metros de superfície», sublinha. Assim, o Governo português só teria de comparticipar 20 por cento dos trabalhos, diz o autarca, admitindo ainda que, «caso seja necessário», a autarquia também estará disposta a contribuir.
Uma vez que não dispõe de dinheiro para financiar a recuperação da linha férrea, o município figueirense solicita à Refer «boa vontade para a elaboração dos estudos económicos e de viabilidade». Para Armando Pinto Lopes, trata-se de um projecto «que vai andar, embora não seja a curto prazo. Já estamos há 16 anos sem a linha, por isso, se ficarmos mais dois ou três sem ela, não vem grande mal», reconhece. Espera então que o troço possa ser reactivado «em 2007 ou 2008», caso o Museu do Côa esteja concluído até lá. Contudo, reforça a ideia de que essa tarefa é um «projecto essencial para o desenvolvimento do turismo na região». Está assim adiada a ambição do município de Figueira, que em Maio tinha sido reforçada com a promessa feita pelo então primeiro-ministro, Durão Barroso: «É ponto assente que vamos reabrir a linha Pocinho-Barca de Alva», disse, realçando que o seu Governo iria ficar conhecido, «entre muitas outras coisas, por ser o primeiro a reabrir uma linha ferroviária». Já teria inclusivamente solicitado à Refer para fazer estudos sobre o troço do ponto de vista financeiro, turístico e patrimonial. Na altura em que foi encerrada, as velocidades dos comboios na linha rondavam os 30 quilómetros/hora, em consequência do mau estado da plataforma. Apesar dos carris continuarem no local, a reabertura do troço implica a sua substituição integral, de modo a que os comboios possam circular entre os 80 e os 90 quilómetros/hora, uma velocidade aceitável, considerando os objectivos turísticos e as características regionais do eventual serviço de passageiros. Recorde-se que é também intenção da autarquia promover a recuperação da estação de Barca d’Alva numa unidade hoteleira.
Requalificação prevista em Espanha
Para lá da fronteira, o colectivo “Camino de Hierro”, sediado no município espanhol de Lumbrales, apresentou no final de Fevereiro em Salamanca um projecto de requalificação da linha. O programa do Governo espanhol inclui a reabertura, para fins turísticos, da Linha La Fregeneda-Fuentes de San Estéban, a continuação da Linha do Douro no outro lado da fronteira. Esta promessa é a medida 72 das 115 que constam do Plano de Infra-estruturas para Castela e Leão do PSOE e refere a possibilidade de realização de comboios turísticos entre Barca de Alva e Salamanca. “Nuestros hermanos” propõem três fases de execução. A primeira consiste na reabilitação da via, entre a estação de Lumbrales e a ponte internacional do Águeda, para permitir a circulação de composições históricas, bem como a criação de um percurso para cicloturistas e caminheiros. A segunda estipula a recuperação de todas as estações e apeadeiros entre La Fuente de San Esteban e Lumbrales e a implantação de um comboio histórico, a ligar a Portugal na terceira fase da intervenção. Um plano que permitirá o incremento do turismo, a reconversão das velhas estações em unidades hoteleiras e a criação de oficinas temáticas ou postos de venda de produtos locais. O conjunto será financiado por um sistema misto de fundos públicos, para a reabilitação do troço e imóveis; e privados quanto à exploração de actividades. A “Camino de Hierro” estima um custo global de 3,5 milhões de euros, similar à solução preconizada pela Diputación de Salamanca.
Ricardo Cordeiro