O processo de realojamento das famílias do Bairro da Fraternidade, na Guarda, chegou (quase) ao fim. Cerca de dezassete famílias vão deixar as casas degradadas e passar o Natal no conforto da nova casa, na Guarda-Gare. Trinta anos depois daquele bairro social ter sido criado para albergar famílias oriundas das ex-colónias, alguns moradores começaram segunda-feira a receber as chaves das novas habitações. A cerimónia decorreu na Câmara da Guarda na presença do presidente do Instituto Nacional de Habitação (INH), José Monteiro. Mas ainda falta realojar 26 agregados familiares da Fraternidade.
«Agora também é mais rápido para os outros casos», afiança Maria do Carmo Borges, presidente da Câmara da Guarda, com os obstáculos burocráticos ultrapassados «só falta resolver um problema ao nível construtivo, para alojar muito em breve as restantes famílias». O longo processo começou em 1995, quando Maria do Carmo Borges ainda era vereadora do pelouro, passou pelo ex-vereador Vergílio Bento e culmina agora com o vice-presidente da autarquia, Álvaro Guerreiro, recordou a edil. Por isso, nas vésperas de Natal «era obrigatório que algumas famílias já pudessem viver no tão desejado espaço», frisa Maria do Carmo Borges. Para Álvaro Guerreiro, «já é muito importante este primeiro passo», visto que o grande objectivo da autarquia é o de «acabar com todas as habitações insalubres daquele bairro urbano». Nesse sentido, as casas que vão ficar devolutas irão ser demolidas, assegura. Para aquele bairro e envolvente está a ser realizado um Plano de Pormenor que vai ditar o destino daquela zona. O estudo vai definir qual o fim do solo em termos de potencialidade de construção e «só depois a autarquia tomará medidas», garante o vice-presidente.
Assim sendo, e depois de concretizado todo o processo de realojamento, está prevista uma requalificação urbanística local onde as antigas casas da Fraternidade irão ser substituídas por uma nova imagem. Quanto aos projectos que já existiam para aquela área, baseados na ideia de “Cidade da Saúde”, Álvaro Guerreiro é peremptório: «O que há são pedidos de várias instituições de solidariedade social para a cedência de terrenos naquele local para a construção de instalações». No entanto, a Câmara ainda não decidiu sobre a solução técnica «mais apropriada», refere. Os moradores da Fraternidade vão ser realojados na Guarda-Gare, num edifício de rendas sociais construído há dois anos e que só agora vai ser totalmente ocupado. Os apartamentos destinados aos moradores do degradado Bairro da Fraternidade há muito que estavam prontos para serem habitados, mas a burocracia e as desavenças políticas foram um obstáculo. «Também contribuíram as constantes alterações legislativas relativas a esta tipologia de habitação», acrescenta Álvaro Guerreiro. No edifício, vizinho da Junta de Freguesia de São Miguel, há apartamentos para todos os gostos, desde T1, T2 até T3. De resto, a atribuição dos apartamentos está relacionada com o agregado familiar, tal como as rendas que dependem do rendimento de cada um.
Casa nova, vida nova
Maria de Lurdes Pais não conseguiu conter as lágrimas no final da cerimónia e, juntamente com a irmã Nazaré, procuraram logo as chaves das novas casas nas pastas que a Câmara deu. «É que agora cada uma tem a sua casa», conta, visivelmente comovida, Nazaré, para quem este vai ser «um Natal diferente, pois vai ser em duas casas». Antes viviam numa casa pequena, com as respectivas famílias, num total de nove pessoas – dois casais e cinco filhos. Há tantos anos que estava à espera de uma casa nova que até já lhe perdeu a conta. «Talvez há dez anos. Fui morar para o Bairro da Fraternidade com seis anos e agora já tenho 33», recorda Maria de Lurdes Pais. Com melhores condições habitacionais para os seus quatros filhos, esta moradora não esconde a felicidade e não hesita em afirmar que segunda-feira foi «um dos dias mais felizes da minha vida».
Também Filomena Terras morava no Bairro da Fraternidade «há 16 anos», por isso sentiu «uma emoção muito forte» ao abrir as portas da sua casa. «Já tinha esperança de mudar há algum tempo», diz Filomena Terras, enquanto mostra orgulhosamente todas as divisões do novo T3, onde vai viver com o marido e o filho. «A partir de agora, a vida até vai ter outro sentido», confessa. Em contrapartida, Armanda Fernandes já estava a morar no edifício para habitação a custos controlados da Guarda-Gare há um ano. Mas numa situação temporária, pois integrou o grupo das três famílias que já tinham sido alojadas previamente devido a carências de ordem sócio-económica consideradas urgentes. «Vivia numa barraca onde chovia e havia muito frio», relembra Armanda Fernandes. Entretanto veio morar para um apartamento pequeno demais para o seu agregado familiar, mas já recebeu as chaves da sua casa definitiva e até começou a fazer a mudança para o novo apartamento, no prédio ao lado. «Já era bom, mas agora ainda vai ser melhor. As minhas três filhas até vão ter um quarto para cada uma», diz, satisfeita.
Patrícia Correia