Anunciado pelo rufar dos bombos que o foguetório alumiou, chegou com a pompa e circunstância suficiente para que a Guarda lhe estendesse os tapetes vermelhos que, soube-se desde logo, nunca deveriam ter saído dos armários. Em primeiro lugar, porque a cidade não se deveria ter prestado ao papel de tábua salva “políticos” e, em segundo, de acordo com a lógica do próprio, não se devem estender bóias a náufragos. Esses intrusos com intuitos abstrusos. Concluindo, se há algo sobre o que não poderemos ter dúvidas quanto ao anterior presidente da Câmara, é que de intrusões, e intrujices, percebe ele muito. E, mesmo reconhecendo que só é intrujado quem se deixa enganar (nada na ação do homem prometia grande coisa), lá que ele tem muito jeito, tem. O que, à falta de quem lhe perguntasse a utilidade de tanta festarola, determinou que acabássemos por ficar pior do que o estávamos. As apresentações turísticas da cidade não lavam a louça dos restaurantes, nem os lençóis do alojamento local. As promoções dos produtos endógenos não fabricam enchidos, nem apascentam rebanhos. Entretanto, novos e menos novos continuavam a tomar caminho daqui para fora sem que outros os substituíam, porque se as tristezas não pagam dividas as “alegrias” também não.
Enquanto a cidade prossegue na senda da Galiza do Adriano, esvaziando-se sem remédio à vista, o bom do Álvaro estreava floreiras para o bispo benzer. Coisa que, depois de se lhe observar a atitude, tão pouco católica, de não se preocupar lá muito com a sorte dos náufragos do Mediterrâneo, deixará mais perplexos os seus críticos que os seus apoiantes. Os críticos sempre pensariam que os gestos religiosos eram coisa, exactamente, da sua religiosidade. Já, quanto aos apoiantes, ninguém acreditaria se dissessem não saber que tudo não passava do elemento “católico” da permanente campanha eleitoral. Se o apoiavam era porque acreditavam nele e, se acreditavam nele, conheciam-no bem. Se não acreditavam nele, nem o conheciam bem e o apoiaram, então é porque tudo não passou de mais um cruel lapso para a cidade.
Obrigando-nos, por isso, a daí tirar a devida conclusão: pessoas com egos maiores que elas, tendem a prejudicar todos por onde passam e, perigo ainda maior, por onde hão de passar a seguir.
Que alguém se tenha deixado convencer que de uns estendais luminosos na Rua do Comércio haveria de nos sair melhor futuro, ainda vá que não vá. Agora, alguém querer fazer-se de desentendido quanto à influência das decisões dos deputados europeus no destino de cada um é que já não pode ser. A Guarda incubou o voto que, talvez só para contrariar a esquerda, talvez só por ser daquele deputado em particular, nos pode fazer parecer algo assim entre o desalmado e o sem alma. Ora, como ninguém gosta de parecer nem uma coisa nem outra, tenho cá para mim que foi desta que aprendemos a ser mais críticos e exigentes com quem elegemos para nos representar. Até porque, como se vê, nunca se sabe quando é que um presidente de Junta, só por o ser, não vai acabar no sítio de onde nos dizem quanto devem medir os peixes que pescamos que é, precisamente, o Parlamento Europeu.