Esta semana a revista “BioScience”, uma referência mundial entre as publicações científicas, publicou um artigo histórico sobre as alterações climáticas (https://academic.oup.com/bioscience/advance-article/doi/10.1093/biosci/biz088/5610806?searchresult=1). Mais de 11 mil cientistas de mais de 150 países advertiram que é inevitável um «sofrimento humano sem precedentes» se não houver mudanças radicais para reduzir os fatores que determinam as atuais alterações climáticas. «Com base nas informações que temos, fica claro que enfrentamos uma emergência climática», disse Thomas Newsome, da Universidade de Sydney, e um dos subscritores do artigo.
O alerta foi dado há muito, e é cada vez mais unânime entre cientistas. E também entre o cidadão comum que se identifica cada vez mais com as preocupações dos estudiosos do clima, mas também com todos os que empiricamente vamos percebendo as mutações, as diferenças das estações, as mudanças dos ciclos, as amplitudes climáticas e que vamos sofrendo cada vez mais as consequências dessas mudanças.
Não precisamos de ler os manifestos ou conhecer sequer o que nos dizem os cientistas, mas temos a obrigação de estar atentos e assumir que se nada fizermos, se não mudarmos comportamentos e atitudes perante a natureza e o meio ambiente, o nosso futuro será cada vez mais sofrível. Os incêndios em Portugal, em especial os de 2017, podem não ter uma relação direta com as alterações climáticas, mas estas alterações contribuíram seguramente para as condições que levaram a que em outubro desse ano trágico o território centro de Portugal estivesse seco e fosse pasto fácil para os fogos destruidores que todos recordamos com tristeza.
Pode não parecer que as alterações climáticas fizeram secar o rio Pônsul ou que são os transvases espanhóis que retiram a água do Tejo, o que também é verdade, mas a falta de água é cada vez mais um problema de emergência climática, em que a Península Ibérica estará, comprovadamente, entre as primeiras vítimas.
Percebermos que as 10 cidades mais poluídas do mundo estão na India, que a nuvem de poluição é constante, que as doenças do foro respiratório são um flagelo e que o Estado indiano nada fez para evitar esta calamidade é um absurdo. Os “negacionistas” podem argumentar o que quiserem em contrário, mas se forem a Nova Deli percebem do que falamos.
Por isso, e enquanto não se compreende a posição de alguns governantes, como Trump ou Bolsonaro, os cientistas signatários enfatizam seis objetivos: reforma do setor energético, redução de poluentes de curto prazo, restauração de ecossistemas, otimização do sistema alimentar, promoção de uma economia livre de dióxido de carbono e uma população humana estável. Parece fácil. Mas não é! É um caminho de longo prazo, em que todos temos de participar e para o qual todos temos de contribuir. Os cientistas, neste artigo, surpreendem-nos com algum otimismo. Apesar da amplitude das suas preocupações e da magnitude do que reivindicam, os signatários registam que há «um aumento recente na atenção para este problema» e que a maioria dos responsáveis mundiais «fazem declarações de emergência climática». Os mais jovens garantem uma nova consciencialização e «os tribunais movem ações judiciais por danos ambientais». Os cidadãos assumem que as alterações climáticas são uma emergência.
O combate às alterações climáticas é o combate das nossas vidas – não é apenas uma frase de retórica distante e cosmopolita, é uma frase com sentido e a que temos de dar sentido no nosso dia-a-dia para evitar um «sofrimento incalculável».